segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

acorde Em, acorde A

é meio cor de nada é meio cor de morte
eu quero um remédio pra guardar, pra acordar e se chama café
a cerveja dá sono a maconha tb mas eu não fumei ontem
acho que eu bebi vinho na casa do vizinho
que me acordou gritando
acorde acorda meu bem meu nenen
hj é segunda feira vamos fazer a feira comprar coisas bonitas flores de um real
chora mas deixa embora
acho que eu vou esquecer
esquece agora
naõ vem não
acho que vou chorar
sentada na sala acordada
nao consigo acordar
nao consigo acordar acho que eu vou chorar, faz bem meu bem
meu bem também eu gosto de vc
eu sei um lugar legal pra gente ir
uma piscina azul da cor do seu esmalte
te mendei torpedos dizendo besteiras?

sábado, 5 de dezembro de 2009

desespero agradável é achar que eu posso sair daqui agora e chegar até vc sem avisar. eu fantasiei esse momento de sair de casa com a roupa do corpo e pegar a estrada, mesmo com esse tempo chuvoso. meu coração disparado só queria saldo pra romper de vez com o esperado. chegaria bem na hora em que estivesse acordando, não sei se cheia de entusiasmo ou com a cara de anteontem ainda borrada de sombra preta. com cheiro de cigarro nos cabelos, a bota suja de rua e a roupa úmida. com febre, pedindo cuidado, chorosa e o corpo todo carente de vc. seria bom? o que faz uma pessoa desejar mais do que nunca estar com uma outra tão subitamente? uma coisa que mora onde? no estômago? no peito? na garganta? nos pés? nos olhos de um homem velho cantando amores perdidos enquanto me estende a mão?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

pela passagem de uma grande dor, capítulo extra:

-hj acordei com vontade de te perguntar se......
-fala!
-nada
-fala!
-se vc...
-o que?
-se vc quer...
-ai!
-se a gente pode...
-pode...
-acho que nao sei te perguntar isso...
-tá complicado mesmo! talvez não seja a hora de perguntar... sei lá....
-vc quer sobreviver comigo?
- é... agora a gente SOBREVIVE, né?

pela passagem de uma grande dor: capítulo único

pela passagem de uma grande dor fazemos qualquer coisa, por essa passagem deixamos cair máscaras e certezas, perdemos nosso endereço, mudamos de casa, de casca, digo casa, casca mesmo. atravessando essa rua escura e perigosa podemos cair em buracos sem fim sem nem sentir, podemos nos machucar feio, criar traumas no corpo, feridas profundas, cortes que despedaçam e desfiguram. por esse corredor entre o antes e o depois enquanto ando finco bem meus pés no chão pra não ser vencida pela ventania que se forma nessas zonas de risco. concentro toda a minha força pra continuar, me recuso a olhar pra trás e rever o que na minha memória já está em processo de decomposição. odores da morte, calafrios, desejo de sorte, suor escorrendo pelas pernas e entre os peitos, olhos piscando pra defender a visão pro futuro, silêncio dos berros abafados em travesseiros jogados pelos lados, de todos os lados, ou pra morrer ou pra matar, silenciar, amortecer. afundo bem minha cara num deles e molho o miolo de espuma com a manifestação humana de dor mais conhecida, minhas lágrimas que caem a conta gotas desde o primeiro passo. querida voz do imaginário, me diga por onde sair, me diga que tem uma saída logo alí. por causa de nehuma palavra dita e por causa da solidão eu resolvi por conta própria juntar mais força e correr. nessa de velocidade o túnel que era corredor, que era rua, que foi uma ponte e seria uma passagem de uma grande dor, eu chacoalhei tanto mas tanto que perdi os dentes e as pestanas e fui ficando cansada e fraca, cambaleando, desesperada acabei por raspar o braço direito numa parede cheia de espinhos e perdi um pedaço grande de pele, meu sangue ia fazendo o caminho de volta e até que eu chegasse em algum lugar ele iria parar de escorrer pq foi só o braço. o tempo e o que via ficavam cada vez mais confusos, tortura, muita tontura, não dava pra continuar, era loucura. parei. em volta td ficou mais calmo de repente. o ouvido voltou a reconhecer alguns sons de fora do meu corpo, um barulho de cidade e gente, a perna tremia, aflita engolia o ar que não conseguia respirar, cores tomando formas reais, um sinal verde ficando amarelo, a silhueta de um menino magro e cabeludo, o cheiro do meu suor, tudo me trazendo de volta a uma rua com carros em alta velocidade e luzes como setas que furam o ar poluído do Rio de Janeiro. o relógio da esquina marcava um tempo fixo 23:23, chovia fino, nesse momento ainda não sabia em que ano era essa hora que o relógio marcava. desacelerei a respiração, passei as mão nos dois braços que estavam inteiros, ainda tremia, muito, com a boca seca, seca e cheia de dentes. então mordi os braços, as palmas das mãos suadas. senti o suor então lambi e beijei. estiquei o pescoço pra conseguir ler o endereço, a placa toda metralhada. pensei em perguntar para o primeiro que passasse por mim, mas não soube de que maneira fazê-lo sem que eu parecesse ainda mais louca. que rua é essa? onde estamos? qual o nome dessa rua? vc sabe em que rua estamos? pra onde vamos? calada e sem dar a chance de cruzar olhares, caminhei como os outros, pernas e braços se alternando pra manter o equilíbrio em movimento, concentrada no ar que respirava mais tranquilamente comecei a me lembrar de ter estado ali antes, mas quando meu Deus? mas com quem? até que li algo que me fez algum sentido, mas não a ponto de ser uma pista. escrito na janela de uma van estacionada: III Festival Nacional de Música Instrumental.