domingo, 4 de abril de 2010

utdo é ciçfão, mneos a dro.

O título dessa postagem é uma frase de Jô Bilac: "Tudo é ficção, menos a dor." A cena é uma narração em primeira pessoa que começa assim: ontem passei na esquina de casa e vi uma mulher pendurada no orelhão. ela tinha os olhos borrados de maquiagem preta, a cara suada, o cabelo louco, o salto torto (metade na calçada metade no asfalto), tornozelo torto, sujo, decote torto, sorriso torto, dizendo pau sa da men te entre espumas brancas:
- sabe, já não espero mais as flores, o cartão postal nem sequer as lembraças por elas mesmas. eu sei, bebi demais. 12 horas de porrrrre, é bom! agora basta comer um macarrãozzzinhosozinha em casa, novela na tv olhando nos olhos do thiago laceerrda. sabe, eu não espero mais uma comidinha feita com essspeciarias e malandragens que vc me prometeu. faz tempo perdi o paladar pra coisas que eu não provei. tá td calmo... é como eu te falei uma vez na casa da sua mãe: quem nasce bem como eu não aceita qualquer coisa! lembra ou não lembra? nãaao lemmbra. agora vai dizer que não leemmbra! então, escuta! quem nasce bem como eu não aceita qualquer porcaria! entendeu? mas eu tô trabvallhanndo o desapego, o zen, o amor próprio e ao próximo tudo assim juntinho, é difícil, mas eu ttôo no caminho, eu vou me adaptando, sabe como? thô calllma! eu tô ficando velha e idiota, é isso, vc tem rrrazzzão! tem rrrazão! eu não disse que vc disse isso eu é que disse que eu acho que vc acha isso de mim. eu não tô exaggeranndo não, tá!? vc acha isso sim eu sei que acha, mas tá td bem, td certo entre nós, enfim concccorrrdamos! eu sou velha e idgiota!
bateu o telefone na cara do sujeito, depois das últimas e conclusivas palavras arrastadas e sumiu na multidão. para observar essa cena até o final eu tive que disfarçar a minha curiosidade. primeiro fingi estar conversando ao celular, depois ajeitando o cadarso do tênis na beira da calçada, também toda torta quase com a outra metade do pé no asfalto, bem ao lado da sandália de plástico da mulher descontrolada. ela devia ter uns 30 anos. toda torta da vida. sem saber pra onde ir de tanta birita, coitada! aquela mulher fazia gestos monumentais, ela era um espetáculo e isso td é invenção!

5 comentários:

Ana Fonte disse...

é tudo fictício darling.. basta saber se é superprodução hollywoodiana ou independente!

colina coralina disse...

vc que escreveu? hehe nossa, amei essa mulher toda torta! ela sofre mesmo, sei como é querer comer as comidiiiinhas com especiariiiia e malandragem que ele prometeu, só querer não ter. ruim né!? tudo é ficção, menos a dor. na alegria e na tristeza, uns bebem, outros escrevem, outros. (ps. erro de digitação no meu comment do post abaixo: queria dizer el secreto de sus ojos.) beijos!!

Lila disse...

heheheh, quero te encontrar!!!! esse texto é meu sim! td aqui é meu. quando cito eu digo!

colina coralina disse...

vim ler de novo. me apaixonei loucamente por este texto, esta mulher torta. é lindo vc escrevendo: "faz tempo perdi o paladar pra coisas que eu não provei." je suis in love!:)

Lila disse...

merci!!!! merci!!!