domingo, 30 de novembro de 2008



cada um tem a sua verdade
viver é pra quem tem fé
se vale só um sorriso
um canto
ou um caldo
cada um sabe o que
faz chorar
e não tem nome
que existe em tudo
mas não tem definição
todo esse mistério maravilhoso
toda essa força que vem do ventre
da terra, da mulher
do amor
desesperado pela vida
a graça de sentir a felicidade
tocar na sua própria verdade sem nome
e ainda ser mais um é realmente uma questão de fé

domingo, 23 de novembro de 2008

ser louco é ser na medida certa da vida
o que faz gozar é o amor
palavras
palavras que nascem das palavras
já nem penso mais
nem me reconheço
me sinto confortável
imensamente preenchida
enfeitiçada
está tudo escrito no corpo de quem descansado da vida fora da arte permite nascer em sua estrutura física os galhos brutos dos estados
com tamanho e forma próprios e precisos
poderia estar em qualquer lugar do planeta
sou certa de paixão agora
sou confusão entre loucura e sensatez
acesso meus horrores e prazeres escondidos
reinvento a cara da angústia
me mostro o monstro que sou
apegada a verdade mais sincera do ator
somente quando sou ator
desce
varre
limpa
a dor
que me endurecce a face
gasta
todo o medo
o rancor
os tempos da dor
meu Deus
onde vc tá
pq não me escuta
alguém me dá a mão
me leva pro meio do mar
preciso de um barco
sou um rio
preciso desaguar
alguém me assopra um vento na cara
um vento forte
frio
pode ser quente
seco
úmido
um vento pra eu sentir que a tempestade está em todo lugar

domingo, 16 de novembro de 2008

dias alegres são possíveis
caminhar na areia
sentir o mar chegando aos pés e subindo gelado pelas pernas
ver um monte de criança
tão intensas
como elas sentem tudo
sem vergonha
vivem sendo somente elas
sem pudor
e quando observadas significam o mundo
sem máscaras
tão alegres

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

fumaça de vento frio ofusca meu olhar
a luz parece o sol de um farol
mas me escapa veloz e me sinto só
personagem única de um filme mudo e sem cor
um filme deserto de lugar e gente
eu sou a miragem que a película captou
a única forma viva em movimento lento
quase pedindo pra parar com medo de congelar
mas o tempo não tem fim, é eterno morar aqui
retomando a frase do final da minha primeira postagem As pessoas precisam se amar com um poema do Fernando Pessoa

"toda a gente é interessante se a gente souber ver toda a gente
que obra- prima para um pintor possível em cada cara que existe!
que expressões em todas, em tudo!
que maravilhosos os perfis todos os perfis!
vista de frente, que cara qualquer cara!
os gestos humanos de cada qual, que humanos os gestos!"
repete a noção do tempo que me foge
o som do silêncio que me habita
a música que dele faço e com ela danço
de um canto a outro tentando ocupar meu lugar
me ocupar
deixar que aconteça o que já é agora.
Rastro sonoro dedilhado queria sombra, ponte, silêncio, cordas.
O elevado amor grave, pisca casa e brincadeira.
A tinta louca franze o brilho de qualquer lugar, o movimento, o trimilique.

"Nunca mais compreenderei o que eu disser. Como poderei dizer sem que a palavra minta por mim?" Clarice Lispector, em A paixão segundo G.H.
quero dizer que acredito muito nas coisas boas da vida quando por alguns momentos deixo de pensar sobre outros aspectos ou probabilidades da "realidade"
coisas estúpidas e belas
não posso mais viver assim
ou é ou não é
e sempre o que é é tão contraditório
não tenho sossego
não tenho mais pra onde ir sem que não me entristeça
não tenho mais com quem estar sem que me sinta só
e assim não me agradam e não agrado
não suporto e não suportam
nem nos enganamos
a distância é transparente
o que importa é o que achamos importante
o que era feliz?
e quem acha que é feliz?
é um morto-vivo habitante de um mundo inventado
e mutilado por não comportar a dor
um mundinho bacana esse das pessoas felizes
mas o amor acabou
ou ama-se muito pouco
os pais e os filhos
e mesmo desses queremos nos livrar
a loucura de aceitar a vida desse jeito é o mistério maior
agora vai e assim ficamos
sem ponto final

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Texto de apresentação: mas que coisa formal, sim é, estou assim agora, bem burocrática, pois já gastei toda a minha cota de poesia por hj. eu não fui abençoada com talento de escritora tanto quanto gostaria, existe uma fonte, porém, e daqui saem algumas palavras. bom, hj aqueci o corpo, ensaiei, estudei na biblioteca até meu amor próprio me expulsar de lá, tive um impulso estranho de ir até o mosca e de sair de lá correndo logo depois, peguei o carro e fui mais cedo até o Leblon pra ver O Natimorto - Um Musical Silencioso, do Lourenço Mutarelli com direção do Bortolotto ( ele é realmente muito estranho pq se ele não for isso td de esquisito é ainda assim muito estranho que se faça parecer tanto, ele tava no café na mesa em frente, ok, mas quando se levantou, andava como um bêbado velho arrastando suas botinas de cano médio arrebentado e caindo pelos lados, um estilo meio adolescente underground de sapato, nessas horas me faz falta um personal stylist, gostaria de oferecer uma definição melhor do pisante do cara). esperei horas antes da peça começar, fiz um lanchinho com a maravilhosa coca- cola zero bem gelada e escrevi no jornal que tinha na bolsa minhas sensações de solidão e cansaço. é realmente uma pena quando não escuto minha intuição. bem antes de sair de casa, sempre toda carregada ainda pensei em arrumar um jeito de levar meu caderninho que não é tão inho assim e por isso ficou pesado na minha cama mesmo. acabou o papel, escreve no jornal! de repente eu posto alguma coisa desse momento um dia. escrevi a respeito de uma dor que eu sinto desde muito tempo, não sei precisar. bom, tô lá no café escrevendo minhas bobagens e o celular toca me dispersando. era a mar perguntando o número da minha poltrona e coisa e tal e aquela confusão de tirar as coisas de cima da bolsa, de abrir a bolsa e tentar achar a carteira e de tentar achar o bilhete lá dentro no meio de tantos papéis de cartão de crédito, cartões de salão de beleza e aula de francês e Santos Expeditos, achei! G5 , jaé! oi! td bem ta linda que bom vamos? olha a Alessandra Negrini, o Du Mosovisc, o Bruno sei lá o que, o Nelson Xavier (ah! esse foi legal ver de perto). o primeiro sinal tocou, sentamos. música, cenário e luz de serviço diminuindo aos poucos enquanto o povo falava e mastigava de boca aberta balas e pipoca de plástico. luz do palco, pessoas ainda conversam, eu tento não parecer chata e digo pro namorado da amiga que tb é amigo que já começou sim. entra em cena o primeiro ator, silêncio... mentira, mais foi impactante pra todos. agora estava oficialmente começada a peça e finalmente via o que queria. excelentes atores, ótimo texto, muito boa peça. valeu a pena mais do que o comum esperado. eu ri, me encantei com o trabalho dos atores e com as camadas do texto, pensei sobre a solidão e vi que não estava sozinha! todos somos sós e é lindo! "E mesmo o cansaço da vida tem certa beleza quando é suportado sozinha e desesperada", disse a Clarice em Perto do Coração Selvagem e eu me acalmei na minha própria solidão e escrevi isso td pra quase nada pq apenas ia dizer que queria apresentar esse blog hj já q o meu antigo se perdeu no espaco virtual. era um blog segredo bobo, pq tinha muita vergonha de me expor, mas vale o risco se puder exercitar minha escrita aceitando a presença de um interlocutor invisível. eu adoro o que tem em cima da minha cama, talvez traga algumas folhas do caderninho até aqui, e tb pensei muito que realmente as pessoas precisam se amar!