domingo, 16 de dezembro de 2012

senha: mediocridade

por mais que tentemos
somos mediocres
preguiçosos
estamos cansados
achamos td difícil
gostamos de senhas
sentimos importância com essas bobagens
gastamos dinheiro
coçamos o saco
e ele está bem cheio


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

o cabaré do fim do mundo

estão todos histéricos e suados
gritam dançam e resmungam coisas do passado
anotam de batom na cara dos otários o quanto eles são uns otários
depois lambem a bagunça toda com amor e deboche
um cheiro vulgar de boca de fumo nas baforadas sensuais
as bocas tortas e moles se beijam deixando os dentes pra fora
como caretas ou máscaras do inferno
estão no cabaré do fim do mundo
nas mesas drogas, comidas, bebidas, armas, crueldade e babaquices
morrer jovem na violência parece bem adequado
enquanto nos buracos livros são batizados como escudos contra o apocalipse
sorrindo para o céu, brilhando de confiança na salvação, eles cantam de mãos dadas
agora os loucos todos saem do armário
a terra treme
a caverna da fé pensa que são os passos bêbados do cabaré
e se eles se encontrarem? a terra acalma?
é impossível esperar a morte sem temer
fracos!



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quando nao se tem nada a perder, somente a ganhar...

atuar é como lembrar de um sonho, de um sonho antigo
 como não lembrar de quem vc é, de onde vc vem

domingo, 14 de outubro de 2012

mofo e mediocridade
é fantástico!
o domingo da classe média
a maior parte do tempo
jogando na cara a média parte do que poderia ser todo usado
inteiro tudo o que com o tempo sempre morre

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

eu nao sei o que quero dizer
eu
nao sei
pensei que alguem poderia comecar um dialogo comigo
mas aqui ninguem diz nada tambem
pq nao sabem o que dizer?
nao sei
me esforcaria para responder a uma pergunta
ou me expressar de alguma forma a um estimulo qualquer
por isso que escrever e tao triste as vezes
e o teatro tao cheio de gente falando na hora errada

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

e o seguinte o macho se ergue todo e cresce na hora da raiva, fica vermelho e ridiculo, chama atencao para seus musculos que ha muito nao exercita e e a gente que da escandalo?
escandalo e assim o... vc fica quieta e some quando olha pro lado o susto e geral, vc como uma samurai, na maior maestria da elegancia se pirulita do local da vergonha e para todos os efeitos o que aconteceu nao foi nunca nada demais e digno de esquecimento na primeira virada de esquina, e uma especie de magica que so muito bem treinando conseguimos executar.... faz tempo faz muito tempo, falava manso e com as maozinhas enlacadas em cima das pernas cruzadas, me arrepiava com palavroes, manias de mocinha, sempre a pedir licenca e perdao.... dona baratinha me ensinou a como nao ser uma mulher fatal, mas dai veio o machao que so responde com afetacao, dai para a samurai foi mais uma outra vida que conto depois, agora saio correndo com a bunda balancando e sem vergonha nenhuma na cara!

domingo, 16 de setembro de 2012

sobre o ruim do desajuste... há um desconforto, uma disritmia
e um jeito desengonçado de ser
que deve transitar entre a carência de si mesmo e uma tentativa de afronta ao outro pq se tem a cruel ideia de que o outro não é bacana, mesmo que vc seja bacana de volta ou mesmo bem antes
a tentativa não para aí, no fundo quer agradar tb, td muito torto como uma obra de arte restaurada por uma devassa alienada e bem intencionada velhinha
é um medo, um receio que vai artificializando o corpo, a fala, a roupa, o sexo, a coluna, o olhar, a pessoa
e ela não está feliz e é isso o que deveria importar
o desajuste que incomoda quem tem e sente e que se apresenta de forma violenta aos olhos de quem ama esse alguém é o sinal de socorro mais agudo que podemos perceber...



terça-feira, 11 de setembro de 2012


hoje eu encontrei a minha sombra
fazia tempo que procurava, mas acho que era falta de Sol
eu arrepiada já estava lá de novo andando como se fosse eu
eu
meu olho
minhas pernas
minhas veias
minhas enferrujadas juntas que doem
minhas pegadas duras que marcam
concreto
é certo
eu virei a esquina e desvirei robô
eu sou uma gente que respira, que sonha, que ama, que é lesada e que não tem vergonha
eu virei a esquina! eu virei a esquina!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

no dia das frases feitas
a professora de história quer virar um mártir da educação e tira a roupa
fica de calcinha preta em sala de aula
ela grita que nem política nem saúde, nada enlouquece mais a mulher do que o adultério
e explica corajosa, tirando de dentro da boca uma enorme faca afiada, que é tudo muito lógico
na manhã seguinte é primeira capa em todos os jornais, cinquenta anos depois é só uma notinha borrada.


sala de espelho

a alma engole a imagem multiplicadas vezes machucada
a alma e suas pelancas em molho de pus
engole o corpo deforma o corpo deforma a mulher
faces faces infinitamente enfileiradas em quadros claros e estáticos
vivos em carne carne
a mão acaricia os cabelos e puxa um fio com o anel quebrado, partido
pra sempre, as mãos e suas displicentes ações

sábado, 18 de agosto de 2012

de repente me dei conta de que vim parar aqui nesse hoje
e pensei, meus Deus, como?
de repente eu vi que estava sentada teclando sobre isso e me perguntei, por quê?
olhei pro lado e percebi, também de repente, que não tinha você
ué, natural então estar aqui de repente sem você em pleno hoje, um dia tão impensável
não, não!
pois para mim isso que é o agora deveria ser um futuro distante a perder de vista depois da curva da velhice, o tempo saltou até aqui e eu não vi!
foi por isso que você não veio? e me perguntei como foi mesmo que nos separamos, mas não consegui uma resposta. você está em algum tempo longe daqui e eu bem perto de não entender mais nada, como vim parar aqui sem você?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

o gosto que fica entre o céu da boca e o nariz num gole errado de coca-cola me lembra aqueles fantásticos dias falsos
a memória alojada na garganta
gole cheirado não desce
a prova do absurdo
como a imagem de um lugar tão bonito pode ser arquivada junto aos pesadelos?
a torre de controle no centro do universo onde eu era a força, a luz e a ordem era de açúcar cristalizado, areia, pó
gosto de coca-cola tomada errada
de cocaína
bile
regurgito agora o seu jeito torto de ter me feito o que eu sou quando solta do espelho que eram os seu olhos
meu universo todo em desencanto agora
porque antes dos estilhaços da verdade eu era tão inteira e ridícula
tanto amor e veia aberta
e você, sua cocaína, a mentira e sua lâmina
todos em silenciosa e eficaz conspiração cortaram a minha alegria
sangue coagulado
a mãe joga remédio e o pus amarelado embranquece
seca
carne cauterizada
pregos e cruz
quando o corpo é dor moída em máquina de tortura
cautelosamente
sorrateiramente
como moem os ratos
como roem os ratos
como se parecem com homens em atos selvagens de covardia e horror
a prova do absurdo
jorro em você tudo o que era eu em banhos de lágrima
marco seu lençol com um resto de vaidade pintada
para as suas pisadas de bola
para cada uma delas
uma estaca a mais no coração
no meu
para cada bicho que matei e espectro que encontrei na madrugada
uma chance a mais eu te dei
para você que não sabe o que é
o que passou mas estava lá
para você o que posso deixar é o que restou
é o que eu sou
o que restou dos escombros dos castelos
das memórias, gostos, luzes, ruídos, cheiros e golfos
todo o pouco que sobrou é o que posso te dar
gostos, luzes, ruídos, gemidos, cheiros e devaneios.
a única coisa que não me escapa é a palavra
eu juro que não sei nada de mim
suspenso no tempo
num riacho qualquer meu corpo
ainda vivo
e pálido
roxa, a boca treme e não diz
flutua a alma
a pele mole, morta
o olho aberto
o pulso lento
a caminho dos anos
fluindo numa existência transparente
de peso amparado pela discrição do não ser

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

a vidente
sabe que a vida é uma corrente
e que essa mesma corrente é o que liga tudo o que acontece
a vidente me disse para ficar atenta
ela sabe o quanto é importante ficar atenta e distraída ao mesmo tempo
ao atravessar a rua atenção, repare se alguém parado na esquina pode ser um possível amor
uma amiga importante, distante
repare antes de tudo se você sabe onde está
em que esquina, pois assim é menos difícil se perder
ela disse que se perder demais para além do caminho de volta para casa pode ser perigoso e até mesmo chato, o corpo atento uma hora quer descansar,
e precisa muito mais do que um íntimo desconhecido e seu sofá....

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Quero casar e ter filhos com teu olhos
quero casar com teus olhos e ter filhos
quero com teus olhos casar e ter filhos com eles
quero ter filhos com teus olhos

segunda-feira, 23 de julho de 2012

todo dia
ao acordar
pensa
hoje é um dia especial
pensa
hoje é um dia especial
hoje é um dia especial
pensa
pensa
pensa 
hojé é um dia maravilhoso
hoje é um dia maravilhoso
maravilhoso
o dia de hoje é
esplendoroso
hoje é o melhor dia da minha vida
o dia mais perfeito 
mais divertido
o dia em que tudo vai dar certo
em que eu vou resolver tudo o que preciso para ser feliz
hoje eu vou ser feliz
ser feliz 
ser feliz
feliz
prometo
hoje eu prometo
prometo prometer
prometer ser
ser
prometo ser
ser
feliz
todo dia ao acordar

sábado, 21 de julho de 2012

Caetano, por que você envelheceu?
Caetano você sempre teve razão, você pode vir me buscar?
Ainda não é Natal, mas eu já me sinto tão mal
Juro que não prefiro o seu carnaval e nem penso mais em transa
Caetano por que você se calou?
Sua mágoa passou ou você se rendeu?
Eu nem comecei a gritar e você secou a voz num tom baixo demais
Caetano, eu ainda te amo.
sentados na mesa da cozinha
um de frente para o outro
olham-se
a mesa posta para dois, café da manhã
sábado
café da manhã de sábado para dois
pães, bolos, queijo, geléia, leite
café
silêncio
com sede água
com fome pão
suco, requeijão
café
passa a faca com cuidado
nada pode ferir o equilíbrio que o silêncio forja
a ausência da palavra
o rádio desligado
nada para ser dito
tudo em seu lugar
garfo, faca, colher, manteiga e prato
migalhas no chão caem respeitosas
caem como a neve cai quando neva em algum lugar mais frio longe dali
caem lentamente uma por uma sobre as outras
formam um tapete de resto por debaixo dos chinelos de sábado
mas café da manhã de sábado é diferente
tem goiabada comprada na feira
cascuda, vermelha e azeda
tem silêncio
tem falta do que dizer
tem aquela calma que a gente nunca sabe se é de paz ou de tédio
e eu tenho medo de sentir constrangimento quando estou vazia diante de alguém importante como você num sábado de manhã sentada numa mesa de café cheia de comida boa
e é tanta coisa que sinto antes desse medo que agora fico aqui sozinha enrolada num edredon 50% poliester
50% algodão pensando que não devo conhecer pessoa que saiba ser feliz
devia ser mais simples
o café
a água, suco de caixinha
você de frente para mim
o rádio desligado
em silêncio você passando a manteiga no meu pão
eu ofereceria mais um pouco de açúcar só com um gesto
agradeceria com os olhos sorrindo
minha mão alisando a sua
nada para ser dito
migalhas caindo em câmera lenta
um sabor gostoso de queijo com geléia
você me passa o leite
eu aqueço, chocolate, mexo
tomo
te ofereço
e você me agradece com um beijo
e isso é 100% bom se eu tivesse coragem e você paciência
seria calmo e excitante como Paris no século XX
em qualquer dia da semana em qualquer lugar no mundo tomando café da manhã, nós dois












terça-feira, 10 de julho de 2012

quanto aos processos do que chamamos de realidade nos dias de hoje
toda ação fica congelada num tempo de passado imperfeito
o tato segura o vazio no escuro
leve e perigoso é o cansaço do nada
o mundo me parece assim, além de mim, tudo que é vivo já está morto


sexta-feira, 6 de julho de 2012

no silêncio e com fome todas as possibilidades parecem mais gostosas
às vezes adoro ainda mais os momentos que antecedem a coisa, o fato em si
sempre que isso acontece é sinal de que a vida é boa mesmo quando sai dos trilhos
e quando volta, como uma montanha russa, a barriga comendo vento e o peito estufando coragem
a sensação é movimento

terça-feira, 3 de julho de 2012

de manhã acorda canela
de tarde sua tamarindo
de noite cheira dama 
com lua cheia fica ainda mais doce, mas aí vem o perfume feio do pesadelo


sexta-feira, 29 de junho de 2012

a ostra e a pérola



de dentro um brilho intenso podendo explodir, mas tão confortável dorme em braços fortes numa cama feita deliciosamente para a eternidade
                                                           

há também uma tensão para a outra parte
o que cabe lá dentro é tão perfeitamente apenas aquela pérola, daquela cor
centímetro por centímetro de completude mais anos de inquietação abafados pelo o abraço amado
acho que ela nem  sabe que é bela
viajam lentos em águas de mil outras estrelas,
dizem que no fundo do mar tem um outro céu sem sol
e só a lua ilumina e nem ela consegue passar por dentro do casco
dizem que é de dor que adormece,
mas os sonhos...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

ele morreu amanha
voce precisa ter feito alguma coisa
sem acento
nem lei
a vida segue
o curso do absurdo

quarta-feira, 25 de abril de 2012

6:41 é uma hora tão bonita e digna
é uma hora limpa, talvez a mais limpa de todas, deve ser a hora preferida para as rezas dos monges
a do sexo matinal de um casal feliz, de gente de bem que se ama e trabalha duro
a hora que a asa do mosquito que te mordeu a noite toda já não tem mais força pra fazer ele te rondar
a hora que o ronco do tio vira ronco do motor, das partidas para a luta
das insônias e resignações.
eu vi o dia nascer, surgir a luz prateada por trás da cortina
eu vi acontecer o céu de repente tingir de cores quentes e
eu na cama coberta de frio
ouvi o pássaro que parece chamar todo mundo pra ver
o manto da noite se despindo em mais um dia sem vc
eu nao pude nem descansar
coisas que só o estômago sabe, pq lá é onde moram embrulhados todos os sonhos

agora começa a parte mais sombria da manhã
o vômito certo no caminho ainda do banheiro
a camisola molhada, um tremor nas pernas, uma dor,
um medo

uma sensação de que tá tudo fudido
porque justamente nessa hora que o organismo se junta todo num esforço de viver
sabe no fundo que, é uma consciência leve e nada tranquila, que no fundo é tudo mais pesado
difícil e triste,
acho que perdido.

como um homem que sabe que está morrendo e é socorrido por estranhos na calçada
o sangue correndo até o meio da rua, o asfalto bebendo como que precisasse de mais desgraça
e eu choro por quem nunca conheci
eu choro por mim
para sempre um gosto assim de sangue e injustiça e de medo e vergonha
uma preguiça de levantar, sair andando e dispensar as ajudas
virando a esquina já não importo mais, que nem nos jornais
jamais um comentário, nada sobre o que choca, nada choca
amar o ovo da Clarice é o desafio do mundo, ela sabe
a galinha saiu de cena faz tempo, o ovo é estrela
ovo
tá podre
estamos perdidos, todos, todos os artistas, os transformistas, os maniqueístas, os comentaristas, somos todos os homens morrendo na calçada de bala desendereçada.
e todo mundo frita ovo e lê jornal.

terça-feira, 20 de março de 2012

de dentro da garrafa, bem do fundo

quando quebro o silencio com teclas batidas em ritmo de agonia deve ser porque nao me resta mais muito o que fazer para encontrar voce. todas as cartas de amor sao para voce, todas as cartas e todas as letras. eu nunca perco de vista teu endereco, teus passos, teus vestigios, eu nunca deixo de escutar teu ronco, tuas broncas, tuas manias e frases feitinhas. e todo o artificio serve pra diminuir a vergonha que sinto por ser tao bobinha quando o assunto e vc. fico assim pequena encolhida, adormecida, esperando vc receber a mensagem e vir me beijar, esperando imovel, calada, discreta, gelada e quase morta de saudade. o tempo. nao ajuda o fluir do sangue na veia, o tempo deixa em conta gotas cada passo da tua distancia correndo dentro de mim e vc nunca vem e quando abro os olhos duros e fixos na ideia de ver teu rosto sofro com o clarao do quarto vazio de manha, essa e a hora que mais peco pra vc domar uma maquina no galope com a forca que eu sei que tem, com o desejo que nao sei se tem. tem? na tua carta de resposta nao precisa desenhar a verdade dos sentimentos, qualquer replica sera recompensa pela minha espera. a vida toda.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

as palavras aos poucos ressurgem

da máquina de escrever

eu adoro a palavra ferrugem

eu queria ser ruiva

e ouvir o r no ouvido

rosnar para o inimigo

ruir como castelo de areia

perder a veia

ser feia

grande, gorda, cheia

e ter com isso certa e misteriosa beleza

deixar pistas e confundir os caminhos

imprimir qualquer coisa por aí

qualquer noção de mim

e ainda sim ainda sim não saber nada de mim

ainda que ainda que eu quisesse me achar

ainda que você pudesse me ajudar

ainda que isso colorisse a página em branco que voa por qualquer vento

eu me invento aria e ria

borro qualquer desenho, destruo castelo, me arrebento

fico muda, magra e miserável

fico distante e antes que isso fico no meu delicioso silêncio

tão independete quanto falso

eu me apavoro