quarta-feira, 8 de agosto de 2012

o gosto que fica entre o céu da boca e o nariz num gole errado de coca-cola me lembra aqueles fantásticos dias falsos
a memória alojada na garganta
gole cheirado não desce
a prova do absurdo
como a imagem de um lugar tão bonito pode ser arquivada junto aos pesadelos?
a torre de controle no centro do universo onde eu era a força, a luz e a ordem era de açúcar cristalizado, areia, pó
gosto de coca-cola tomada errada
de cocaína
bile
regurgito agora o seu jeito torto de ter me feito o que eu sou quando solta do espelho que eram os seu olhos
meu universo todo em desencanto agora
porque antes dos estilhaços da verdade eu era tão inteira e ridícula
tanto amor e veia aberta
e você, sua cocaína, a mentira e sua lâmina
todos em silenciosa e eficaz conspiração cortaram a minha alegria
sangue coagulado
a mãe joga remédio e o pus amarelado embranquece
seca
carne cauterizada
pregos e cruz
quando o corpo é dor moída em máquina de tortura
cautelosamente
sorrateiramente
como moem os ratos
como roem os ratos
como se parecem com homens em atos selvagens de covardia e horror
a prova do absurdo
jorro em você tudo o que era eu em banhos de lágrima
marco seu lençol com um resto de vaidade pintada
para as suas pisadas de bola
para cada uma delas
uma estaca a mais no coração
no meu
para cada bicho que matei e espectro que encontrei na madrugada
uma chance a mais eu te dei
para você que não sabe o que é
o que passou mas estava lá
para você o que posso deixar é o que restou
é o que eu sou
o que restou dos escombros dos castelos
das memórias, gostos, luzes, ruídos, cheiros e golfos
todo o pouco que sobrou é o que posso te dar
gostos, luzes, ruídos, gemidos, cheiros e devaneios.

2 comentários:

colina coralina disse...

que bonito. que jorro! uma dor! parabéns! vc é uma poetisa!

Lud disse...

Arrasou! Sem mais.