quarta-feira, 22 de abril de 2009

a eternidade e
um dia
uma música
um beijo
a efemeridade e
um instante
uma nota
mais um beijo
a idade
o tempo
o amor
a palavra
a dor
o prazer
a ausência
a loucura
a nostalgia
a saudade
o desejo
o medo
o tédio
a eternidade da Clarice é ficar perpetuamente morrendo como gozo de dor supremo
a minha eternidade são efêmeros estados que vivem me acontecendo
às vezes sinto como se já tivesse morrido
uma alma que vaga com apego pelas ruas
sou uma velha que imagina como foi bom ou como poderia ser
contemplo as pessoas, as memórias
uma criança que descobre tudo com a rapidez de um relâmpago que ilumina e faz desesconder o que eu mais quero ver, os detalhes, galhos como braços que pedem socorro, água e amor
uma dor me aniquila, essa é a minha eternidade aqui na vida até morrer
uma certeza, a dor, e não deveria nem ter esse nome, realmente. o que não é dor? existe até dor gostosa de sentir, a insuportável e a fatal. como vão passando os dias e o tempo sem que as pessoas se olhem e se entendam? como pode ir acabando eternamente ainda sempre na distância? como ir vivendo para morrer só? e são tantas as belezas que só enxergamos com olhos cansados e entusiasmados, como se pudessem ser assim juntos. podem, mas nem sempre. e quando isso acontece é a graça, é a poesia que resolve dar o ar. é a vida sutil, são os sabores indizíveis, os sinais de divindade indecifráveis. que Deus é esse? pra quem olho com meus olhos transparentes sem perder o melhor da inocência? ai, uma ciranda! quero dançar ciranda e girar com os cabelos que voam e o rosto pro céu, vendo td se misturar numa cor só, segurando forte as mãos dos dois lados, dois elos que me levam para a plenitude de estar viva. estamos vivos! estamos juntos, eu amo, eu quero e não largo suas mãos. me voa com você, me lava, me abraça me cata na rua daquele bairro que eu não sei mais o nome e onde me viu uma vez cantar, me fala baixo e em seguida não me irrita mais, é assim que vai ser, os pressentimentos me dizem que nós vamos correndo girando e eternamente esbarrando na graça, riremos de tanta! mas não é só de rir. tem graça que é de paralisar, de entristecer, de dar coragem, de apaixonar, tem graça de arrepender um pouquinho só e tem graça de desejar o inalcançável, tem um monte de coisa que eu nem sei, mas procuro e vc também, eu sei. você que não é só um, nem dois, é mais, tão mais! eternidade em mim que sou efêmera, pois o relógio vai bater a minha hora daqui um dia. e se eu puder, continuo sim eternizando comigo longe você e nós e todas as coisas que eu vi com graça. todo o amor que recebi e guardei no que sou eu, eu sou você em mim e em você e sou eu em você e em nós que nem sabemos onde moramos. uma vontade de chorar por tantas coisas que eu nem sei além dessas aqui, uma vontade de não morrer, de ter todo o tempo do mundo e de não ver que perdi coisas que gosto, que amo. uma vontade de permanecer aqui, pois aqui não tem fim. e agora só choro com dor e prazer de viver e é só isso. tenho pena de mim, de você, do moço que abre a porta do meu prédio e dos meus pais, de todos! eu não quero estar sozinha agora.

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