Querido,
quanto tempo não ouço a sua voz de veludo pesado! Veludo do bom, grosso e macio que me esquentava nas tardes cinzas de inverno. Aquelas tardes em que não nos encontramos naquela praça abandonda no meio de uma cidade invisível, espaço entre o nada e o lugar nenhum, onde coube por um tempo a cabaninha secreta do nosso amor mágico. Truque: saiu agora da minha cabeça essa palavra e é mesmo como um truque que alguma coisa que era fundamental desapareceu deixando a marca da lágrima eternizada na cara do palhaço. Então, meu muito querido, essa carta é de alforria, desplugo agora nossa sintonia! Querido querido, me perdoe por eu ser quem sou, me perdôo por ter te amado demais, te perdôo por tudo o que for preciso perdoar. Fechamos a conta assim com tudo combinado e quitado! Eu realmente espero que você entenda os meus motivos escondidos e que não pense que estou maluca. Que essa carta chegue ao seu endereço, mas isso não depende só de mim...
Um beijo com desgosto carinhoso de quem sempre vai te esperar voltar das cinzas tardes esquecidas na memória, das manhãs dos sonhos mais coloridos, bem do fundo da minha mais ingênua ilusão, das paisagens mais lindas das florestas mais densas, de algum lugar... e aí eu vou querer te dizer um texto que eu li uma vez e que me fez lembrar muito de nós dois. Com cuidado, palavra por palavra, bem articulada, vou te dizer cada uma delas com os lábios tensos que seguram o choro:
"SABE QUE O MEU GOSTAR POR VOCÊ CHEGOU A SER AMOR, POIS SE EU ME COMOVIA VENDO VOCÊ POIS SE EU ACORDAVA NO MEIO DA NOITE SÓ PRA VER VOCÊ DORMINDO MEUS DEUS COMO VOCÊ ME DOÍA VEZENQUANDO EU VOU FICAR ESPERANDO VOCÊ NUMA TARDE CINZA DE INVERNO BEM NO MEIO DUMA PRAÇA ENTÃO OS MEUS BRAÇOS NÃO VÃO SER SUFICIENTES PARA ABRAÇAR VOCÊ E A MINHA VOZ VAI QUERER DIZER TANTA MAS TANTA COISA QUE EU VOU FICAR CALADA UM TEMPO ENORME SÓ OLHANDO VOCÊ SEM DIZER NADA SÓ OLHANDO OLHANDO E PENSANDO MEU DEUS AH MEU DEUS COMO VOCÊ ME DÓI VEZENQUANDO" Caio Fernando Abreu, no conto Harriett
quanto tempo não ouço a sua voz de veludo pesado! Veludo do bom, grosso e macio que me esquentava nas tardes cinzas de inverno. Aquelas tardes em que não nos encontramos naquela praça abandonda no meio de uma cidade invisível, espaço entre o nada e o lugar nenhum, onde coube por um tempo a cabaninha secreta do nosso amor mágico. Truque: saiu agora da minha cabeça essa palavra e é mesmo como um truque que alguma coisa que era fundamental desapareceu deixando a marca da lágrima eternizada na cara do palhaço. Então, meu muito querido, essa carta é de alforria, desplugo agora nossa sintonia! Querido querido, me perdoe por eu ser quem sou, me perdôo por ter te amado demais, te perdôo por tudo o que for preciso perdoar. Fechamos a conta assim com tudo combinado e quitado! Eu realmente espero que você entenda os meus motivos escondidos e que não pense que estou maluca. Que essa carta chegue ao seu endereço, mas isso não depende só de mim...
Um beijo com desgosto carinhoso de quem sempre vai te esperar voltar das cinzas tardes esquecidas na memória, das manhãs dos sonhos mais coloridos, bem do fundo da minha mais ingênua ilusão, das paisagens mais lindas das florestas mais densas, de algum lugar... e aí eu vou querer te dizer um texto que eu li uma vez e que me fez lembrar muito de nós dois. Com cuidado, palavra por palavra, bem articulada, vou te dizer cada uma delas com os lábios tensos que seguram o choro:
"SABE QUE O MEU GOSTAR POR VOCÊ CHEGOU A SER AMOR, POIS SE EU ME COMOVIA VENDO VOCÊ POIS SE EU ACORDAVA NO MEIO DA NOITE SÓ PRA VER VOCÊ DORMINDO MEUS DEUS COMO VOCÊ ME DOÍA VEZENQUANDO EU VOU FICAR ESPERANDO VOCÊ NUMA TARDE CINZA DE INVERNO BEM NO MEIO DUMA PRAÇA ENTÃO OS MEUS BRAÇOS NÃO VÃO SER SUFICIENTES PARA ABRAÇAR VOCÊ E A MINHA VOZ VAI QUERER DIZER TANTA MAS TANTA COISA QUE EU VOU FICAR CALADA UM TEMPO ENORME SÓ OLHANDO VOCÊ SEM DIZER NADA SÓ OLHANDO OLHANDO E PENSANDO MEU DEUS AH MEU DEUS COMO VOCÊ ME DÓI VEZENQUANDO" Caio Fernando Abreu, no conto Harriett
Um comentário:
muito bom! uma declaração de amor linda...
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