quinta-feira, 9 de abril de 2009

o prédio esqueleto
edifício morto
defunto de concreto
alma penada da grande cidade acelerada
cemitério de sonhos
quantas salas sem famílias nem mobílias
quantos os andares
promessas de lares
e quando subo meu olhar por toda sua estrutura crua
sinto a dor da morte em plena rua
nuas as janelas sem vida, quadradas
quebradas, tortas, estilhaçadas
esquecidas que lindas!
coloridas, pichadas, detonadas
casinhas de boneca sem cabeça
de longe tão pequenas todas tantas
como um monstro gigante abatido e que não sangra mais
e era cinza e não vermelho o que saía dele
com centenas de patas umas em cima das outras
queria antes ser como uma espécie de colo mais que materno
um abraço de Deus protegendo seus fiéis pagadores de promessas furadas
acabou!
vai ser varrido do meio do passeio público
num domingo
enquanto comem bacalhau os que podem
nada mau!
mas vai indo esse quadro surrealista paulista
um sonho
pesadelo
mas nunca real
tenho pena
mas vai ser uma morte grandiosa!
a morte do morto
o enterro do pó
e finalmente a paz das coisas apagadas da história
o silêncio e o vazio, nem eco nem sombra
ele vai para a dimensão dos vultos
como os velhos filmes mudos que imortalizam pessoas que sumiram do mapa
alguém lembre de tirar uma foto ou se preferir um desenho
ele não pôde ter filhos
seu nome não se sabe
pois com tanta pompa de desordem
seus apelidos se muliplicaram
a carcaça é o que o representa
e só quem viveu nas suas entranhas proibidas
conhece mais do que o espetáculo visual que se tornou
vindo de todos os tempos, não tem mais pra onde ir
interrompendo suas passagens e paisagens por aqui de anos de degradação
com o fim vai para a memória, lugar de onde nunca mais pode voltar

3 comentários:

Lila disse...

que lindo linda lila!
agora eu tenho um bom motivo pra ir no mercado municipal. Genial, voce.
Imagetico! beijos com amor.

Pierrot Lunaire disse...

fui eu que escrevi isso ai do seu texto. nao vc. ficou no meu computador

Unknown disse...

Nossa Paulinha! Muito bom esse texto!
adorei! Beijos