sexta-feira, 29 de maio de 2009

PARA M:

- Mas...e aí?
- Poxa... vc é um d-o-c-e de c-ô-c-o, mas não dá.
- Pq? Vc não gosta de côco?
- Adoro côco! Sorvete de côco, água de côco, batida de côco, cocada, côco ralado, bala de côco!
- Então não entendi.
- É complexo...
- Como assim complexo?
- Acho que foi por isso que usei essa palavra, complexo.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

cresceram no meu jardim. cobras enormes com dentes afiados. quebraram os vidros das janelas enquanto eu tentava proteger as portas. elas entraram, foram mais fortes. uma para cada cômodo e nem sei quantas porque não conhecia minha própria casa.

quando tomo um banho decisivo, me lavo demoradamente. deixo a água morna levar o que não é meu. no final só fica eu, meus cabelos que restaram, minha pele viva, minha velhice esperada, meus peitos doendo, um certo cansaço, a certeza da solidão.

um contentamento por ter vivido, por viver e por ainda esperar alguma coisa me toma quando deito depois de mais um dia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

sem manteiga nem tiro de revólver
só lágrimas e um sangue que agora escorre lento por dentro
na noite sem tango nem mambo, decidi
e pernas pra correr e olhos pra não olhar pra trás?
de onde vem? não aprendi

reticências
interrogações
consolações
avenidas vazias da grande cidade
palavras
cinema
aleluia
imagem
merda
frio
cosmos
cigarro
garrafada
chiclete
mistério
dor
sadafeza
canalha
canalha
carne
navalha
pescoço
sangue
delírio
suor
magestade
demais
vazio
falência
estado
crise
matéria
desejo
gozo
universo
solto
cama
infeliz
cidade
idade
igualdade
ridícula
carência
cristal
calêndula
cabeçário
calendário
kamassutra
laço
caso
maço
mexe
fica
fico
tua
cabeça
cabelo
cachos
relaxo
galope
cristal
sangue
violento
cristal
quebrado
sozinha
de novo
aguardo
retorno.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

quando ainda estava na dor da insustentável leveza do ser, propus um último tango em paris

quarta-feira, 13 de maio de 2009

mentiras e bobagens

quero escrever sobre mentira, mas estou tão sem inspiração e não quero ser uma mentirosa, alguém diga coisas sobre a mentira, pois é essa a palavra que se repete agora na minha cabeça, não sei por que. ela tem perna curta, engraçado isso. tem muita mentira que nunca se pega, de pernas velozes, tem mentira que é tão bem inventada que vira real, é mentira sem perna, nem deixa pegada. e mentira mal contada é a maior mancada, pq o pior da mentira é quando o mentiroso dá voltas e mais voltas e faz de tudo e mais um pouco pra enganar ainda mais um sujeito, engana mais do que seria preciso e ainda corre o sério risco de ser descoberto. já o melhor da mentira é quando ela se aproxima daquilo que não se conta, do que se omite. é claro que uma vez mentira sempre mentira, mas essa daí pode ser menos pior, não sei. o que mais me irrita na mentira é que a pessoa mente pra vc pq imagina que vc nao seja capaz de lidar com a realidade e ninguém pode julgar isso nem escolher por mim, eu nunca quis viver ilusões e deixo bem claro pra quem me conhece. entao mentem tb pela culpa e assim vai, a mentira é um artifício para qualquer momento nas relações de todos os tipos. ao conhecer uma pessoa vc mente ou pq está interessada nela por algum motivo qualquer que não seja necessariamente apenas o sexual ou justamente pelo contrário e quanto mais vínculo vc vai construindo com a pessoa, mais vc tem a perder e por isso às vezes mais motivos tem para mentir imaginando que assim estará protegendo a relação, ai!!! que preguiça já me deu das mentiras, mentira gera mentira e mentira é fácil. difícil é encarar os fatos. sei lá, não me sinto enganada agora, mas com certeza hj mesmo já mentiram pra mim algumas vezes, eu preciso me lembrar se menti hj pra alguém, acho que não e sabe pq? realmente tenho tentando parar com isso, eu me sinto tão bem falando só a verdade, me sinto uma heroína e afinal, como as pessoas não devem ficar esperando muito dos outros, então eu me livro de tanta cobrança e acabo dizendo a verdade na lata!!! na lata! faz até barulho dependendo da situação! piinn! eu mentia um pouco, mentiras bobas, mas meus pais não me deixavam fazer nada quando eu era adolescente então dizia que estava na casa de uma amiga e ia pra uma festa e tal, coisas bobas, mas que tiravam o meu sono. fui pega na mentira umas vezes e foi tão constrangedor pq era uma mentirinha boba e mesmo assim perdiam em mim a confiança por toda a eternidade e eu passava a ser vigiada, uma suspeita, pronta pra cometer mais uma vez o crime da mentira. mente não, vai!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

com o pouco tempo que tenho não quero só tentar, entende?
e esse calor que começa na barriga e vai subindo é pra explodir minha cabeça?
espetinhos de coração estão sendo vendidos na minha esquina e sinto o cheiro daqui
agora me bate uma vontade mesmo é de um comer doce bem enjoado, que preguiça de ir até a cozinha, eu tô perdida!

domingo, 10 de maio de 2009

DIA DAS MÃES

na rua uma mulher chora enquanto olha para as duas mãos que seguram um retrato?
uma carta? uma mecha de cabelo? do filho que perdeu? uma nota de 1 real? um presente que ele mesma não recebeu? o vestido largo reserva lugar para uma barriga que vai crescer? que já cresceu? que nunca vai ou que eu não vi? desolada? o que era aquilo que vi pela janela do carro? perguntas. acho que era exatamente um ponto de interrogação seguido por reticências vírgula reticências. uma cena dramática, cinematográfica. por trás e além daquela interrogação, um roteiro complexo com várias histórias simultâneas e elipses de tempo. efeitos como os de Matrix, de repente o mundo todo gira em torno daquela mulher de vestido largo de pano pobre. ela tinha cabelos curtos, o pano era cinza e ela chorava apaixonada. era quase a Maria Falconetti interpretando Joana D'arc no cinema mudo e eu vi ali uma dor, uma que eu também tenho por motivos tão desconhecidos e incomparáveis.

"Não ter tido filhos me deixava espasmódica como diante de um vício negado." Clarice em Paixão Segundo G.H.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

consolo para o meu amor

até o sol raiar
a menina não dança
até o sol raiar
algo como a esperança
até o sol raiar
ela escreve e não cansa
até o sol raiar, sem descortinar, pois pano não há!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

e jura que abandona
mas não sabe ir embora
liga e diz alô
escuta sua voz
a mesma que disse te amo, tchau
se confunde ainda mais
atravessa a rua sem olhar pros lados
deu sorte, não morreu
recolhe seus pertences
não sabe se são seus
nem mesmo aqueles lances
marcados como gados
por letras do seu nome
e isso é uma pista
nem sabe que é artista
começa a tremer
e não entende o porquê
carrega o peito de ar
se afasta da multidão com um olho roxo e o outro a aguar
engole um bocado de lágrima
era sal ou caía outra vez
com o rosto sem vida imaginava dizer
talvez, talvez...

silênciada pela falta que o mundo tem de sentido quando tudo de repente desmorona e o que vira escombro não tem cor nem testemunha, é mentira, invenção de criancinha, sacode a poreira e dá a volta por cima, tô vendo daqui a sua calcinha, eu não te odeio, você me acha problemática, não sou maluca, você é muito sensível, gosto disso em você, caiu a ligação, mas quem queria falar com ela?

elaeuelaelaeu

tarja preta pra têta na tela
telegrama com letras pretas
borboletas
tarja preta pela goela seca
tarja preta de luto por ela
nosso amor só secou por sequela
quem me dera
quem me dera
ter de volta meu ar de singela
se pudera
se pudera
esquecer a raiz desse drama
as pretas letras do telegrama
mas agora
borboletas,
das pretas
ela chora
ela chora






segunda-feira, 4 de maio de 2009

Parte II

na chama
na lama
banana
caramba!
caralho!

Parte I

somos todos pixotes, sem pai
sem leite na mama
sem grana
sem fama
na cama
me ama