domingo, 10 de maio de 2009

DIA DAS MÃES

na rua uma mulher chora enquanto olha para as duas mãos que seguram um retrato?
uma carta? uma mecha de cabelo? do filho que perdeu? uma nota de 1 real? um presente que ele mesma não recebeu? o vestido largo reserva lugar para uma barriga que vai crescer? que já cresceu? que nunca vai ou que eu não vi? desolada? o que era aquilo que vi pela janela do carro? perguntas. acho que era exatamente um ponto de interrogação seguido por reticências vírgula reticências. uma cena dramática, cinematográfica. por trás e além daquela interrogação, um roteiro complexo com várias histórias simultâneas e elipses de tempo. efeitos como os de Matrix, de repente o mundo todo gira em torno daquela mulher de vestido largo de pano pobre. ela tinha cabelos curtos, o pano era cinza e ela chorava apaixonada. era quase a Maria Falconetti interpretando Joana D'arc no cinema mudo e eu vi ali uma dor, uma que eu também tenho por motivos tão desconhecidos e incomparáveis.

"Não ter tido filhos me deixava espasmódica como diante de um vício negado." Clarice em Paixão Segundo G.H.

Nenhum comentário: