quinta-feira, 30 de maio de 2013

pelas tantas apontou com o bico do chapéu para o meu nariz, como se quisesse me ferir ou desafiar no escuro eu ouvi uma palavra torta que trazia de volta o olhar para fora, foi aí que te vi por trás e além. não aguentando o tamanho das coisas eu pensei em flutuar e quem sabe chegar até a lua, redonda brilhante e plena que figurava no quadrado da sua janela aberta, se o vento tinha um caminho porque então não veio levantar o meu vestido e esse frio só para não perdoar os que amam demais e inventam histórias, a vida é normal. as pessoas é que são problemáticas e entediadas inventam bobagens. se pudéssemos substituir toda a complexidade, andar nú, comer capim, não seríamos animais e artistas. quanto mais bagagem mais chance de entulhar a sala da sua casa com souvenirs e sua cabeça com chapéus de ponta. os doentes e doendes que moram com vc todos sabem onde encontrar uma manta verde e mágica, vc se enrola e flutua até a lua se quiser, não precisa levar com vc nada além da chave de casa, uma hora vc não cabe mais no quadrado da janela. vc come o vento e o mundo, os olhos, as pessoas e os animais, tudo oq ue vc faz eh comer ou fazer alguma coisa do mundo morrer em você, como um buraco negro vc flutua sobre a cidade de noite engolindo objetos e desejos, vc engorda da felicidade e da raiva dos outros. indigesta é a manhã seguinte, onde vc procura entre outras coisas comer ainda mais e bebidas como antídoto. se vacina, amigo, de amor e calma. a vida é normal. fica três horas no banho quente e deixa queimar sua pele, tirar da carne o cheiro do pecado, o pecado é normal, mas não durma duas noites seguidas com ele, senão nunca mais se separam, deixe ele virar só uma sombra que te acompanha mas não te representa. as coisas são simples, preto no branco, papel molhado se desfaz, coração quebrado não se cola mais e assim vc vai, encontra um diversão, um chocolate, um livro bom, um filme, seus amigos. pelas tantas e pelas tabelas, fuipercebendo que era ali no parapeito daquela janela que ia me livrar de certas sombras, coisas que dormiram comigo por muitas noites e que me amaram, eu tentei cruzar o caminho do vento me desviando de vc para que junto dele eu fosse pra longe desaparecendo e desfazendo o papel molhado que vc não enxugou eu fui ao parapeito pedir ao vento, entre nomeu vestido e tire de mim tudo o que quiser pq o que sobrar já é lucro, já que estamos aqui, eu vc e essa lua. livrai-me de ti! ó!

domingo, 14 de abril de 2013

o que quer dizer quando chora?
alguma coisa esta por tras dessas lagrimas
qual eh a fonte e pq nao seca?
essas perguntas nao foram feitas para respostas
foram pensadas para nada alem de apontar uma forma
vc existe com alguem ao seu pe e deixa de ver esse alguem quando percebe o sol acima de tudo
que briilha na testa sua e nao chega a iluminar o rosto de quem te segura
vc caminha com os pes pesados, tenta se livrar de alguma coisa que sente, nao ve e pesa em vc
vc sacode as pernas, grita e se cansa a toa, vc fica irritada
vc xinga sua mae, seu cachorro de puto seu amor de escroto
vc finge que nao ve
vc caminha lenta e gorda
mas nao come ninguem
vc come o que resta
fios de leite e fios de fibra optica
vc opta por nao estar nas companhias
telefonias e menininhas
todas as suas amigas estao cansadas, atordoadas e sorridentes
vc esta solteira e ainda assim sente o peso nos pes, nao vao para lugar algum sem seu coturno preto de guerra
acha bonito o floral  mas nao mostra as pernas
pernas gordas peludas, de velhas preguicosas e estupidamente abandonadas
as pessoas nao se ligam nisso elas nem ligam pra isso
vc sim, vc olha no espelho de repente e quer se esconder, vc nao tem pra onde ir
um colchao inflavel azul marinho te lembra de longe um pouco de paz quando na piscinha boiava ao pensar no nada, pq nem memoria tinha
as pessoas ficam no passado
vc vai para o lugar onde nada alem de vc importa mas vc nao importa com nada
ao contrario o mundo vai girando e as flores crescendo, seus pelos tb continuam naturais, seus pelos sao as unicas coisas que continuarao crescendo mesmo quando vc finalmente se deixar morrer
vc morre e nao sente
os outros sentem
e eh sempre essa disritmia
eh essa mesma danca um pra la e outro pra ca, nunca para o mesmo lugar
vc vai sozinha
vc esta sozinha
a escuridao eh assassina.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

vai aqui uma rapidinha
a carne exposta no centro da mesa
civilizadamente devorada pelos olhos, garfos e bocas,
enquanto entre uma e outra mordida
falam babando palavras poucas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

era cedo, a luz do dia entrava clara pela janela ampla e enferrujada, alguma coisa me parecia diferente naquela manhã, eu ali, tão prontamente e inspirada manuseando como uma artesã artigos de cozinha e temperos. quando com a faca na mão pronta para atacar e fazer em pedaços o meu almoço de verão, escuto passos na escada e me viro para ver se quem acordara era o meu amor.
não, não era e junto com ele perdi tb o que preparava, estava vivo o polvo e seus tentáculos sumiram da tábua debaixo da faca. procurei por toda a cozinha, no armário onde ficavam as panelas e dentro das panelas. olhei para cima e lá estava o molusco como um lustre num manifesto silencioso e desesperado pela vida de forma tão inteligente. ali parado no teto, sobre minha cabeça confusa, ele pingava um suor com limão que caía exatamente dentro dos meus olhos que pareciam chorar e choravam diante de uma uma coisa bruta que me lembrava uma obra de arte comovente de um desses artistas mensageiros, esses seres superiores de lucidez translúcida
tudo tão intenso a ponto de não me deixar alternativa, eu não podia suportar aquela imagem com tanta fome e pressa enquanto morria de saudade, com tanta sujeira e coisas para arrumar na casa, na vida. então segurei firme a faca e com um pulo atingi em cheio o centro do corpo que pulsava como o meu coração e tudo desapareceu de repente, um jato de escuridão me apagou. alguns minutos ou horas depois levanto com ajuda de mãos grandes e quentes, ou dias depois? eu estava fraca, ainda confusa e sem enxergar, senti uma força que vinha de fora entrar pelo meu corpo como um bloco de insuportável calor que fez arrepiar minha espinha torta, eu estava definitivamente machucada, cega e gradualmente, lentamente ficando louca.

domingo, 16 de dezembro de 2012

senha: mediocridade

por mais que tentemos
somos mediocres
preguiçosos
estamos cansados
achamos td difícil
gostamos de senhas
sentimos importância com essas bobagens
gastamos dinheiro
coçamos o saco
e ele está bem cheio


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

o cabaré do fim do mundo

estão todos histéricos e suados
gritam dançam e resmungam coisas do passado
anotam de batom na cara dos otários o quanto eles são uns otários
depois lambem a bagunça toda com amor e deboche
um cheiro vulgar de boca de fumo nas baforadas sensuais
as bocas tortas e moles se beijam deixando os dentes pra fora
como caretas ou máscaras do inferno
estão no cabaré do fim do mundo
nas mesas drogas, comidas, bebidas, armas, crueldade e babaquices
morrer jovem na violência parece bem adequado
enquanto nos buracos livros são batizados como escudos contra o apocalipse
sorrindo para o céu, brilhando de confiança na salvação, eles cantam de mãos dadas
agora os loucos todos saem do armário
a terra treme
a caverna da fé pensa que são os passos bêbados do cabaré
e se eles se encontrarem? a terra acalma?
é impossível esperar a morte sem temer
fracos!



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quando nao se tem nada a perder, somente a ganhar...

atuar é como lembrar de um sonho, de um sonho antigo
 como não lembrar de quem vc é, de onde vc vem

domingo, 14 de outubro de 2012

mofo e mediocridade
é fantástico!
o domingo da classe média
a maior parte do tempo
jogando na cara a média parte do que poderia ser todo usado
inteiro tudo o que com o tempo sempre morre

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

eu nao sei o que quero dizer
eu
nao sei
pensei que alguem poderia comecar um dialogo comigo
mas aqui ninguem diz nada tambem
pq nao sabem o que dizer?
nao sei
me esforcaria para responder a uma pergunta
ou me expressar de alguma forma a um estimulo qualquer
por isso que escrever e tao triste as vezes
e o teatro tao cheio de gente falando na hora errada

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

e o seguinte o macho se ergue todo e cresce na hora da raiva, fica vermelho e ridiculo, chama atencao para seus musculos que ha muito nao exercita e e a gente que da escandalo?
escandalo e assim o... vc fica quieta e some quando olha pro lado o susto e geral, vc como uma samurai, na maior maestria da elegancia se pirulita do local da vergonha e para todos os efeitos o que aconteceu nao foi nunca nada demais e digno de esquecimento na primeira virada de esquina, e uma especie de magica que so muito bem treinando conseguimos executar.... faz tempo faz muito tempo, falava manso e com as maozinhas enlacadas em cima das pernas cruzadas, me arrepiava com palavroes, manias de mocinha, sempre a pedir licenca e perdao.... dona baratinha me ensinou a como nao ser uma mulher fatal, mas dai veio o machao que so responde com afetacao, dai para a samurai foi mais uma outra vida que conto depois, agora saio correndo com a bunda balancando e sem vergonha nenhuma na cara!

domingo, 16 de setembro de 2012

sobre o ruim do desajuste... há um desconforto, uma disritmia
e um jeito desengonçado de ser
que deve transitar entre a carência de si mesmo e uma tentativa de afronta ao outro pq se tem a cruel ideia de que o outro não é bacana, mesmo que vc seja bacana de volta ou mesmo bem antes
a tentativa não para aí, no fundo quer agradar tb, td muito torto como uma obra de arte restaurada por uma devassa alienada e bem intencionada velhinha
é um medo, um receio que vai artificializando o corpo, a fala, a roupa, o sexo, a coluna, o olhar, a pessoa
e ela não está feliz e é isso o que deveria importar
o desajuste que incomoda quem tem e sente e que se apresenta de forma violenta aos olhos de quem ama esse alguém é o sinal de socorro mais agudo que podemos perceber...



terça-feira, 11 de setembro de 2012


hoje eu encontrei a minha sombra
fazia tempo que procurava, mas acho que era falta de Sol
eu arrepiada já estava lá de novo andando como se fosse eu
eu
meu olho
minhas pernas
minhas veias
minhas enferrujadas juntas que doem
minhas pegadas duras que marcam
concreto
é certo
eu virei a esquina e desvirei robô
eu sou uma gente que respira, que sonha, que ama, que é lesada e que não tem vergonha
eu virei a esquina! eu virei a esquina!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

no dia das frases feitas
a professora de história quer virar um mártir da educação e tira a roupa
fica de calcinha preta em sala de aula
ela grita que nem política nem saúde, nada enlouquece mais a mulher do que o adultério
e explica corajosa, tirando de dentro da boca uma enorme faca afiada, que é tudo muito lógico
na manhã seguinte é primeira capa em todos os jornais, cinquenta anos depois é só uma notinha borrada.


sala de espelho

a alma engole a imagem multiplicadas vezes machucada
a alma e suas pelancas em molho de pus
engole o corpo deforma o corpo deforma a mulher
faces faces infinitamente enfileiradas em quadros claros e estáticos
vivos em carne carne
a mão acaricia os cabelos e puxa um fio com o anel quebrado, partido
pra sempre, as mãos e suas displicentes ações

sábado, 18 de agosto de 2012

de repente me dei conta de que vim parar aqui nesse hoje
e pensei, meus Deus, como?
de repente eu vi que estava sentada teclando sobre isso e me perguntei, por quê?
olhei pro lado e percebi, também de repente, que não tinha você
ué, natural então estar aqui de repente sem você em pleno hoje, um dia tão impensável
não, não!
pois para mim isso que é o agora deveria ser um futuro distante a perder de vista depois da curva da velhice, o tempo saltou até aqui e eu não vi!
foi por isso que você não veio? e me perguntei como foi mesmo que nos separamos, mas não consegui uma resposta. você está em algum tempo longe daqui e eu bem perto de não entender mais nada, como vim parar aqui sem você?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

o gosto que fica entre o céu da boca e o nariz num gole errado de coca-cola me lembra aqueles fantásticos dias falsos
a memória alojada na garganta
gole cheirado não desce
a prova do absurdo
como a imagem de um lugar tão bonito pode ser arquivada junto aos pesadelos?
a torre de controle no centro do universo onde eu era a força, a luz e a ordem era de açúcar cristalizado, areia, pó
gosto de coca-cola tomada errada
de cocaína
bile
regurgito agora o seu jeito torto de ter me feito o que eu sou quando solta do espelho que eram os seu olhos
meu universo todo em desencanto agora
porque antes dos estilhaços da verdade eu era tão inteira e ridícula
tanto amor e veia aberta
e você, sua cocaína, a mentira e sua lâmina
todos em silenciosa e eficaz conspiração cortaram a minha alegria
sangue coagulado
a mãe joga remédio e o pus amarelado embranquece
seca
carne cauterizada
pregos e cruz
quando o corpo é dor moída em máquina de tortura
cautelosamente
sorrateiramente
como moem os ratos
como roem os ratos
como se parecem com homens em atos selvagens de covardia e horror
a prova do absurdo
jorro em você tudo o que era eu em banhos de lágrima
marco seu lençol com um resto de vaidade pintada
para as suas pisadas de bola
para cada uma delas
uma estaca a mais no coração
no meu
para cada bicho que matei e espectro que encontrei na madrugada
uma chance a mais eu te dei
para você que não sabe o que é
o que passou mas estava lá
para você o que posso deixar é o que restou
é o que eu sou
o que restou dos escombros dos castelos
das memórias, gostos, luzes, ruídos, cheiros e golfos
todo o pouco que sobrou é o que posso te dar
gostos, luzes, ruídos, gemidos, cheiros e devaneios.
a única coisa que não me escapa é a palavra
eu juro que não sei nada de mim
suspenso no tempo
num riacho qualquer meu corpo
ainda vivo
e pálido
roxa, a boca treme e não diz
flutua a alma
a pele mole, morta
o olho aberto
o pulso lento
a caminho dos anos
fluindo numa existência transparente
de peso amparado pela discrição do não ser

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

a vidente
sabe que a vida é uma corrente
e que essa mesma corrente é o que liga tudo o que acontece
a vidente me disse para ficar atenta
ela sabe o quanto é importante ficar atenta e distraída ao mesmo tempo
ao atravessar a rua atenção, repare se alguém parado na esquina pode ser um possível amor
uma amiga importante, distante
repare antes de tudo se você sabe onde está
em que esquina, pois assim é menos difícil se perder
ela disse que se perder demais para além do caminho de volta para casa pode ser perigoso e até mesmo chato, o corpo atento uma hora quer descansar,
e precisa muito mais do que um íntimo desconhecido e seu sofá....

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Quero casar e ter filhos com teu olhos
quero casar com teus olhos e ter filhos
quero com teus olhos casar e ter filhos com eles
quero ter filhos com teus olhos

segunda-feira, 23 de julho de 2012

todo dia
ao acordar
pensa
hoje é um dia especial
pensa
hoje é um dia especial
hoje é um dia especial
pensa
pensa
pensa 
hojé é um dia maravilhoso
hoje é um dia maravilhoso
maravilhoso
o dia de hoje é
esplendoroso
hoje é o melhor dia da minha vida
o dia mais perfeito 
mais divertido
o dia em que tudo vai dar certo
em que eu vou resolver tudo o que preciso para ser feliz
hoje eu vou ser feliz
ser feliz 
ser feliz
feliz
prometo
hoje eu prometo
prometo prometer
prometer ser
ser
prometo ser
ser
feliz
todo dia ao acordar

sábado, 21 de julho de 2012

Caetano, por que você envelheceu?
Caetano você sempre teve razão, você pode vir me buscar?
Ainda não é Natal, mas eu já me sinto tão mal
Juro que não prefiro o seu carnaval e nem penso mais em transa
Caetano por que você se calou?
Sua mágoa passou ou você se rendeu?
Eu nem comecei a gritar e você secou a voz num tom baixo demais
Caetano, eu ainda te amo.
sentados na mesa da cozinha
um de frente para o outro
olham-se
a mesa posta para dois, café da manhã
sábado
café da manhã de sábado para dois
pães, bolos, queijo, geléia, leite
café
silêncio
com sede água
com fome pão
suco, requeijão
café
passa a faca com cuidado
nada pode ferir o equilíbrio que o silêncio forja
a ausência da palavra
o rádio desligado
nada para ser dito
tudo em seu lugar
garfo, faca, colher, manteiga e prato
migalhas no chão caem respeitosas
caem como a neve cai quando neva em algum lugar mais frio longe dali
caem lentamente uma por uma sobre as outras
formam um tapete de resto por debaixo dos chinelos de sábado
mas café da manhã de sábado é diferente
tem goiabada comprada na feira
cascuda, vermelha e azeda
tem silêncio
tem falta do que dizer
tem aquela calma que a gente nunca sabe se é de paz ou de tédio
e eu tenho medo de sentir constrangimento quando estou vazia diante de alguém importante como você num sábado de manhã sentada numa mesa de café cheia de comida boa
e é tanta coisa que sinto antes desse medo que agora fico aqui sozinha enrolada num edredon 50% poliester
50% algodão pensando que não devo conhecer pessoa que saiba ser feliz
devia ser mais simples
o café
a água, suco de caixinha
você de frente para mim
o rádio desligado
em silêncio você passando a manteiga no meu pão
eu ofereceria mais um pouco de açúcar só com um gesto
agradeceria com os olhos sorrindo
minha mão alisando a sua
nada para ser dito
migalhas caindo em câmera lenta
um sabor gostoso de queijo com geléia
você me passa o leite
eu aqueço, chocolate, mexo
tomo
te ofereço
e você me agradece com um beijo
e isso é 100% bom se eu tivesse coragem e você paciência
seria calmo e excitante como Paris no século XX
em qualquer dia da semana em qualquer lugar no mundo tomando café da manhã, nós dois












terça-feira, 10 de julho de 2012

quanto aos processos do que chamamos de realidade nos dias de hoje
toda ação fica congelada num tempo de passado imperfeito
o tato segura o vazio no escuro
leve e perigoso é o cansaço do nada
o mundo me parece assim, além de mim, tudo que é vivo já está morto


sexta-feira, 6 de julho de 2012

no silêncio e com fome todas as possibilidades parecem mais gostosas
às vezes adoro ainda mais os momentos que antecedem a coisa, o fato em si
sempre que isso acontece é sinal de que a vida é boa mesmo quando sai dos trilhos
e quando volta, como uma montanha russa, a barriga comendo vento e o peito estufando coragem
a sensação é movimento

terça-feira, 3 de julho de 2012

de manhã acorda canela
de tarde sua tamarindo
de noite cheira dama 
com lua cheia fica ainda mais doce, mas aí vem o perfume feio do pesadelo


sexta-feira, 29 de junho de 2012

a ostra e a pérola



de dentro um brilho intenso podendo explodir, mas tão confortável dorme em braços fortes numa cama feita deliciosamente para a eternidade
                                                           

há também uma tensão para a outra parte
o que cabe lá dentro é tão perfeitamente apenas aquela pérola, daquela cor
centímetro por centímetro de completude mais anos de inquietação abafados pelo o abraço amado
acho que ela nem  sabe que é bela
viajam lentos em águas de mil outras estrelas,
dizem que no fundo do mar tem um outro céu sem sol
e só a lua ilumina e nem ela consegue passar por dentro do casco
dizem que é de dor que adormece,
mas os sonhos...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

ele morreu amanha
voce precisa ter feito alguma coisa
sem acento
nem lei
a vida segue
o curso do absurdo

quarta-feira, 25 de abril de 2012

6:41 é uma hora tão bonita e digna
é uma hora limpa, talvez a mais limpa de todas, deve ser a hora preferida para as rezas dos monges
a do sexo matinal de um casal feliz, de gente de bem que se ama e trabalha duro
a hora que a asa do mosquito que te mordeu a noite toda já não tem mais força pra fazer ele te rondar
a hora que o ronco do tio vira ronco do motor, das partidas para a luta
das insônias e resignações.
eu vi o dia nascer, surgir a luz prateada por trás da cortina
eu vi acontecer o céu de repente tingir de cores quentes e
eu na cama coberta de frio
ouvi o pássaro que parece chamar todo mundo pra ver
o manto da noite se despindo em mais um dia sem vc
eu nao pude nem descansar
coisas que só o estômago sabe, pq lá é onde moram embrulhados todos os sonhos

agora começa a parte mais sombria da manhã
o vômito certo no caminho ainda do banheiro
a camisola molhada, um tremor nas pernas, uma dor,
um medo

uma sensação de que tá tudo fudido
porque justamente nessa hora que o organismo se junta todo num esforço de viver
sabe no fundo que, é uma consciência leve e nada tranquila, que no fundo é tudo mais pesado
difícil e triste,
acho que perdido.

como um homem que sabe que está morrendo e é socorrido por estranhos na calçada
o sangue correndo até o meio da rua, o asfalto bebendo como que precisasse de mais desgraça
e eu choro por quem nunca conheci
eu choro por mim
para sempre um gosto assim de sangue e injustiça e de medo e vergonha
uma preguiça de levantar, sair andando e dispensar as ajudas
virando a esquina já não importo mais, que nem nos jornais
jamais um comentário, nada sobre o que choca, nada choca
amar o ovo da Clarice é o desafio do mundo, ela sabe
a galinha saiu de cena faz tempo, o ovo é estrela
ovo
tá podre
estamos perdidos, todos, todos os artistas, os transformistas, os maniqueístas, os comentaristas, somos todos os homens morrendo na calçada de bala desendereçada.
e todo mundo frita ovo e lê jornal.

terça-feira, 20 de março de 2012

de dentro da garrafa, bem do fundo

quando quebro o silencio com teclas batidas em ritmo de agonia deve ser porque nao me resta mais muito o que fazer para encontrar voce. todas as cartas de amor sao para voce, todas as cartas e todas as letras. eu nunca perco de vista teu endereco, teus passos, teus vestigios, eu nunca deixo de escutar teu ronco, tuas broncas, tuas manias e frases feitinhas. e todo o artificio serve pra diminuir a vergonha que sinto por ser tao bobinha quando o assunto e vc. fico assim pequena encolhida, adormecida, esperando vc receber a mensagem e vir me beijar, esperando imovel, calada, discreta, gelada e quase morta de saudade. o tempo. nao ajuda o fluir do sangue na veia, o tempo deixa em conta gotas cada passo da tua distancia correndo dentro de mim e vc nunca vem e quando abro os olhos duros e fixos na ideia de ver teu rosto sofro com o clarao do quarto vazio de manha, essa e a hora que mais peco pra vc domar uma maquina no galope com a forca que eu sei que tem, com o desejo que nao sei se tem. tem? na tua carta de resposta nao precisa desenhar a verdade dos sentimentos, qualquer replica sera recompensa pela minha espera. a vida toda.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

as palavras aos poucos ressurgem

da máquina de escrever

eu adoro a palavra ferrugem

eu queria ser ruiva

e ouvir o r no ouvido

rosnar para o inimigo

ruir como castelo de areia

perder a veia

ser feia

grande, gorda, cheia

e ter com isso certa e misteriosa beleza

deixar pistas e confundir os caminhos

imprimir qualquer coisa por aí

qualquer noção de mim

e ainda sim ainda sim não saber nada de mim

ainda que ainda que eu quisesse me achar

ainda que você pudesse me ajudar

ainda que isso colorisse a página em branco que voa por qualquer vento

eu me invento aria e ria

borro qualquer desenho, destruo castelo, me arrebento

fico muda, magra e miserável

fico distante e antes que isso fico no meu delicioso silêncio

tão independete quanto falso

eu me apavoro

sexta-feira, 25 de novembro de 2011


me perdi em SP, as ruas subiam, desciam e não davam em nada que eu pudesse reconhecer

corri do contra- fluxo, flui na correnteza por avenidas marginais, esquinas corrompidas, meninas estilistas, de merda em pastas por aqui se escorrrega muito mais

nos jornais, sou dado, estatística, número, 6 reais, uma nota de um em canoa viaja moedas pelos ralos da cidade

cada vez que dou um passo, e surda admito meu ouvido é pinico, de plástico, lavô tá novo!

ê São Paulo, terra da garoa, terra de gente boa, ê São Paulo, terra da gangorra

ê São Paulo terra de ninguém, eu tb mordo um pedaço da sua maçã do pecado, vc não sente, mas meus dentes são firmes!

domingo, 16 de outubro de 2011

e se eu fosse aeromoça?

se pichasse os muros da cidade ou gravasse nas peles dos que esbarro, se colasse avisos de que me mudei pra outro mundo, se contasse, se cortasse, escapasse, se descolasse uma carona num super airbus desses supersônicos ainda nãoinventados, numa respiração não presa, caisse num planeta mais lúcido, com l maiúsculo de libido, de lambinda, liberdade, de lugar, de loucura com d de doçura com o de omelete pq os ossos também pedem carinho de vitamina, cuidados de astrologia, as casas arrumadas em símbolos bonitos com narrativas felizes, tomasse calmantes, guaranás, porres e pilequinhos, polenguinhos e outros vícios gostosinhos? se chegasse e falasse simplesmente o que sente e a crueza do clichê não incomodasse o sentido de quem me lê, a coisa ia ser mais fácil?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

pra temporada acontecer

http://www.sibite.com.br/Projeto/ProjetoDetalhe.aspx?IdProjeto=167

pra temporada de Mulheres de Caio acontecer em São Paulo!
tão sem jeito as coisas se arrumam
seus dedos na minha boca
meu perfume no seu cabelo

tão sem porque as coisas desandam
procuro o sono
de olhos pro lado oposto
do que era meu

no sono vejo seu rosto
e que gosto?

que gosto tem
seus dedos agora, hein?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

poesia

a beleza não está só no que é bom de ver, a dor é bonita. palavras rascunham algum sentindo em tudo o que é desordem no corpo. precisa- se de poesia. sem ela tudo é loucura podre. quando a vida perde sentido ficamos vulneráveis, inocentes, destemidos. partimos pra luta, nos vencem, caímos, levantamos. tudo para desregular esse sisteminha em seguida. e romanticamente vivemos a prometer o pulso cortado, escoamos a nossa ideia da gente na imagem do sangue jorrando da veia perfurada, se tivéssemos coragem. metaforicamente existimos na plenitude do nada, da incerteza, do medo, do mistério. mãos atadas, enroladas em múltiplas escolhas. vias ocupadas, às vezes invisíveis, escorregadias. isso dura. lucidez. esse é o estado. a poesia que não consigo escrever e quando vem a gostar de mim só faz me levar para um lugar que eu não sei qual. confio. em que pé estará minha condição de ser quem sou? que eu procure por mim sempre que me sentir perdida, que eu procure em mim sempre que estiver vazia. a poesia diria.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

animal!

o cara tava babando como um cachorro nas canelinhas da guria bronzeada e ossudinha. quase fui atropelada. em câmera lenta a gosma pingava da boca velha e torta, contornada por um bigodinho ralo e grisalho. de repente ele mexeu a língua como um lagarto faminto por uma crocante mosquinha tola dando sopa. era uma língua geogáfica e pontuda que com força furou o tempo. voltei à velocidade normal da cidade imediatamente, corri para a calçada, esbarrei no velho e quem morreu foi ele, atropelado por um caminhão!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ensaio

ok, aos 30 então é quando você assume que as coisas são o que são e podem ser boas assim, sem conformismo, nem satisfação, uma sensação que fica bem no meio disso, a palavra uma hora vem para definir ou tentar. fato é que quando olho no espelho e vejo um fio de cabelo branco ou uma ruga no canto do olho eu não tenho nada o que fazer e para que as coisas continuem andando da melhor forma, eu só preciso aceitar e seguir, adicionando esses dados da realidade/tempo na sacola das coisas normais. é normal.... a gente sempre pensa quando se assusta com a resposta do tempo que passa rápido demais! o ano voa, o dia eu nem vejo, e por aí vai e assim a gente aprende que uma hora não tem mais pra onde correr, a vala é certeza! kkkkk eu sei que não se morre só de velhice, mas o que sinto é que o cabelo branco perdeu alguma coisa de vivo e a pele enruga tb porque algumas células morrem e tudo o que quero dizer com isso é que eu sou quem eu sou até hoje e não posso perder tempo reclamando comigo sobre coisas que eu não fui capaz de fazer e coisas que eu definitivamente não posso fazer, pelo menos não nessa vida! aceito! isso não quer dizer que eu tenha parado de ambicionar autorrevoluções e quebras de padrões comportamentais, que desisti de algum sonho ou que tenho preguiça de viver, é bem mais simples! o que quero dizer e aceitar é que eu posso gostar de quem sou assim exatamente como sou hoje, ainda com 99, 9% de fios castanhos no couro cabeludo, sem ter cumprido tudo exatamente como havia planejado quando mais nova e por aí vai... vai me abrindo a noção de que tudo é fantasia e que agora basta ser e aceitar e ainda melhor é gostar disso, gostar de respoder do jeito que eu sei, de escrever do jeito que quero, de falar minhas insanidades e espalhar por aí pensamentos e sentimentos controversos a meu respeito, é bom parar com a obrigação de me dar satisfação em tudo, de dar satisfação aos outros e sobretudo de procurar indícios de certo ou errado nas minhas ações porque afinal eu gosto da vida que eu tenho, de onde moro, das minha companhias, dos lugares que visito, do que estudei, gosto dos altos e baixos da minha profissão, sou viciada nisso, e do tempo que parece livre e que vez em quando pelo espelho me dá um tapa na cara! gosto de estar suspensa no infinito e de ser responsável também por algumas inscrições na minha história. Às vezes acho que cheguei na metade da publicação do tal livro da vida. não, eu não quero morrer cedo! eu gosto de estar aqui, preciso repetir! mas é que não sei se alguém que vive assim como eu consegue vingar por muitos anos e talvez isso não importe tanto quanto antes. me satisfaz hoje olhar pra frente, mas não tão adiante e com paciência frear toda a insegurança a ansiedade e os desastres que elas provocam. em São Paulo faz frio, estou dentro de casa o dia todo e ainda nem conheço essa cidade. Amanhã, me apresento mais uma chance e amanhã vejo como me saio, se saio.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

odeio tudo o que tenho escrito
o que não tenho escrito mais ainda
não tenho para quem pedir desculpas ou pq me envergonhar
sem saída, dói

segunda-feira, 27 de junho de 2011

borboletas coloridas

-apaguei as primeiras linhas desse post, o que ficou foi por respeito ao tema do blog-
altas horas da madrugada, na sala, às vezes algumas besteiras distraem... geladeira, gelatina, gel de arnica, dor no pé. ando e ando o dia todo e só eu sei que voar seria tão melhor. um carro que quebra, uma grana que vai, um dia a mais eu fico sem chão. caminho e caminho, os dias são de corpo pra lá e pra cá. à noite a alma é que vai, o pensamento com asas. os anjos não vemos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

planejei

Oi, apresento agora a minha prateleira de planos:
Repleta de tópicos em caixas lacradas como verdadeiras virgens.... algumas empoeiradas, outras em pior estado: mofo verde aveludado. Os sonhos mais abandonados, os do tipo que a gente acha que não são pra gente, ficam debaixo de um manto desse mofo. Tem que ter coragem para visitar de vez em quando essa enorme despensa. Ver todos os desejos colocados lado a lado numa estante suspensa na linha do horizonte, é forte. É como olhar pra dentro sem ajuda de especialistas, sem suporte do que conhecemos por amor próprio. O que mais me chama atenção? As migalhas espalhadas entre uma caixa e outra, restos, rastros, resíduos de falhas, lacunas, tempo que passa. Ah, a quantidade delas tb me assusta! As maiores e mais pesadas caixas ficam juntas num canto iluminado, escolhi uma lâmpada de cor azul. Ali estão as vontades que não mudam e portanto podem empoeirar. Sempre vai haver um último sopro....As caixinhas nervosas, as mais jovens e volúveis, vivem se esbarrando, lutando por uma vista privilegiada aos meus olhos. O que eu priorizo? Ter tudo isso guardado sim e ir consumindo ainda nessa vida tudo que eu conseguir, considerando os momentos de letargia, absolutamente genuínos, absolutamente aceitáveis. A culpa fica para outro texto. Aqui é só para remediar de alguma forma as limitações da vida real. Aliviar, burlar. Fotografar.

sábado, 21 de maio de 2011

golpe o golpe golpe o golpe que golpe? golpe é gostoso de escrever
golpe me lembra galope, me lembra um bicho arisco com medo de se fuder, antes ele do que eu!

era isso

atravessada e atrapalhada, trapezista ainda assim segura firme... altura equivalente a um prédio de inúmeros andares, atmosfera ciclônica e destino a perder dos olhos. perigo assimilado, respiração de atleta, uma gota de suor e um grito de alívio. alguém cortou a corda e o choque não durou, o choque foi. poeira.

mancha tudo, porrammm

segunda-feira, 16 de maio de 2011

se pintar de cor fraca não vence

o título parece uma dica de beleza, mas esse pensamento é o elixir da vida!
pode ser o terror dos vizinhos, dos namorados e dos parentes, pode ser que você seja alvo de crítica, pode ser que incomode, que faça cansar, suar e odiar. pode ser que não se realize como melhor amiga, madrinha, irmã, namorada, pode ser que não dê em nada, que morra afogada. condições sempre hipotéticas, planejamentos feitos para até no máximo uma hora e unhas sempre pintadas coloridas crispadas na alça da bolsa. não corre, não anda, não voa, não fica parada. flutua, escorrega nas horas e se embola em calendários caóticos. destaca páginas inteiras da sua própria vida, diz coisas que não imagina, amassa os erros com alguns poucos acertos e novamente pisa na bola de algum jeito meio sem jeito, sem querer, então sofre e chora e fica de cama. tem febre de amor e por falta de amor, tem saudade de fazer coisas que não fez, acha que vai morrer cedo, não tem dinheiro. não tem como ter dinheiro porque não sabe calcular e não pretende saber, não quer imaginar o que é a vida no diário oficial. lê jornal. caderno de cultura. devora as horas de sono para trabalhar em estado onírico. acorda cheia de soluções. às vezes apenas soluços. no tempo de um pipi vai e volta da Lua sem nenhum arranhão. questiona o mundo, mas não toma partido em quase nada, afinal acredita em tudo. tem seus pontos de vista, prefere não perder amizades por isso, se pinta uma discordância mais grave então pode ser que se arrisque. não suporta mau humor, dos ourtos! é violenta, perigosa, dirige se maquiando e gosta de batom vermelho. conversando, lendo e cantando, dirige bem melhor que o namorado. tenta contar isso a ele, mas tem o maior amor do mundo, quase como de uma mãe. não pode ter filho, ainda não tem esse direito! não tem! ficou bonito e termino assim... é de cores fortes, um borrão, é melhor isso do que não deixar marca nenhuma. é mais para os outros, é bem mais para os outros e isso não sei se é bom...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

loucura tem perdão?

terça-feira, 19 de abril de 2011

rapidinho

o bichinho tadinho tão encostado com cara de largado no meio da rua
o bichinho tadinho fica o tempo todo calado
me lembro faz tempo ele vivia correndo dos outros
fazia cara feia de bobeira uma cara feia feia
agora tadinho bichinho molinho tristinho
tá cansado arrasado acabado
no fundo dos olhos eu reconheço é aquele bichinho mesmo do começo
no começo bem antes de correr demais e acabar exausto
ele mostrava aos outros por onde ir
conhecia as ruas mais escuras os becos toda a cidade
mesmo daquele jeito tão calado sempre calado
a voz bonita mas de tão escondida engolida
ai bichinho que agonia me dá ver você morrer

quarta-feira, 30 de março de 2011

é a noite!

escuto um soluço abafado quando deito de lado no travesseiro. vem de lá de dentro. é feito coração batendo. como o som de gota d'água pingando no fundo do poço, do balde que uma hora transborda... e silencia.

mas nem tudo é tão triste!
pra aliviar a tensão e fazer a conexão:

"...as certezas de toda uma vida não raro se transformavam sob as influências melancólicas da noite e da insônia." Dostoievski em O eterno marido

segunda-feira, 28 de março de 2011

pois fico aqui parada então

eu sei o que habita o espaço caótico entre o sim e o não: é uma resposta. imprecisa, claro!
alguns acham que a indecisão é falta de coragem, mas qualquer equação solta no universo se destina a uma solução...e o medroso que não foge, se agarra ao sim ou ao não com os olhos apertados invetando logo uma escuridão. não tem pra ninguém! escolher no tempo do mesmo relógio que marca um dia com 24 horas é uma armadilha. você nunca sabe se é melhor correr ou ficar parado.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

é do Antonin Artaud!

sobre o suicídio:

"Mesmo para chegar ao estado de suicídio, devo esperar o retorno do meu eu, preciso do livre jogo de todas as articulações do meu ser. Deus me colocou no desespero como em uma constelação de impasses cuja radiação chega a mim. Eu não posso nem morrer, nem viver, nem desejar morrer ou viver. E todos os homens são como eu."

é da Cecilia Giannetti

vasculhando o livro, que mais parece um baú, Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi, encontrei essa belezinha de trecho:

"Eu me preparo para outra festa, inspecionando diante do espelho o resultado de um trabalho minucioso de mulher: unhas, cabelo, tintas pela cara toda. Irei à festa ciente de que gostarei menos de mim quando estou perto dos outros. Eles sempre me dão chances infinitas para atuar como a pessoa cheia de merda, afetada, caricatural e fleumática que sou. Eles pedem. Não sei como me aguentam, só podem estar de sacanagem."

sábado, 19 de fevereiro de 2011

últimas flores.

l´amour
la mort
la peste
comigo!
l´amour
la mort
la peste
je détèste!
....................vou mandar esse post por sedex.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

getting old

fat and short
losing bright
my religion
and my own.................................................................
....................todos os nossos operadores estão ocupados no momento.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

nudez ridícula é a que finge expor a carne crua em palavras temperadas com regras da linguagem, lavagens. nada selvagem. o que é então preciso para desnudar com coragem? coragem!
rimadinho, né? pois avisei que era ridículo e aqui está!
só mais uma palavra: crueldade.
faz sentido?

contra mim e todos os meus poderes mágicos

ingenuidade é o que trai
me
fui
escapei
e continuo cometendo
ingenuidades
que traem
me traem
fazem
me
sou
ingênua
nua
continua...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

meu machismo

o segundo sexo exige explicações que ninguém é capaz de oferecer

coladinho

vivo atravessando nua espaço com alegria todo dia a te encontrar
e se tem sorriso rapidinho eu te digo que é pra já
olha o cafezinho, quer toddynho, num descuido eu te faço um carinho
não, não posso agora
meu amor eu não demoro pra voltar
eu quero colar o meu corpo no seu
eu quero colar o meu corpo no seu
em qualquer lugar
leve um casaco vai por mim não temo o tempo que está
mas pode chover por aí
eu ouvi
eu quero colar o meu corpo no seu
em qualquer lugar

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

remix de mim.

repete as palavras mais duras no eco do siliêncio, palavras borradas de um escrito que não pode mais reconhecer. pessoa: eu. sozinha, a vida decepciona só a mim. fórmula covarde e eficaz. de tempos em tempos. de eco em eco. até não aguentar, que a falta de veneno também mata alguma coisa que precisa continuar.

domingo, 30 de janeiro de 2011

bonequinha de luxo

a boneca russa quer falar muito hoje e parece que quer trocar o nome desse blog! pode?
conversei com ela, expliquei que não é fácil mudar o nome das coisas como quem troca de madeira. talvez não eu seja tão inteligente quanto ela, mas dócil me ouviu e por enquanto está quieta. ah, essa boneca russa não sossega! sempre uma novidade! não encolhe ou estica sem fazer disso uma novela. boneca mexicana! isso eu só pensei, claro! se ofender a bonequinha, ela roda a baiana!

a boneca russa quer falar

tive uma visão que só mesmo ao vivo posso contar. precisa olhar nos meus olhos para acreditar! adianto que, enquanto esperava por você, matutando sobre a vida descobri umas coisas e delas surgiram outras e assim fui desvendando tudo, sem querer. eu não quis ir até o final, mas tanto você demorou, que lá cheguei. assim não posso te contar, vc não vai acreditar.

pense
























D de derrelição

de desespero
desassossego
repito
e digo
sossêgo

ego

domingo, 23 de janeiro de 2011

sobre a importância das coisas

parágrafo 1:
um dia, de repente, admitir que entendeu bem o que vive e isso significa não diminuir o valor dos acontecimentos somente por acreditar que não se deve levar tudo tão a sério. sério. e a nuvem que encobre o brilho real daquilo que dói demais ou que é bom demais para suportar naquele momento, um dia sai de cena e quando venta já é tarde.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

mãos à obra!

um trânsito interno cósmico astrológico bombástico
uma vontade de estar com meus amores
é cronológico
30 anos
nada de horrores
é lógico!
costuro as linhas da vida só com o pensamento
parabéns pra mim, que estou viva até hoje!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

tic- tac: que feio é escrito, o barulho das horas passando

os sistemas já não são os mesmos e as palavras criptografadas não podem dizer nada. investigo uma ruga no espelho enquanto novamente me esforço por pelo menos uma palavra que faria sentido; se pudesse ser fotografada. as palavras criptografadas não querem dizer nada.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

memória

das contas que já diminui agora só faltam alguns poucos saldos
dados das lágrimas que bebi
momentos que eternizei
fome do amor
de um tanto de dinheiro
de merda nenhuma
fome de mim
de porra nenhuma
de vc
de nós dois
roendo unha
palavras
solidão
medo
choro e sonho
equecidos
como as queixas de depois

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

a sociedade, o verão, a paixão, a merda e a rotina

A rotina e a História
VERISSIMO
O GLOBO - 09/12/10

Nada me impressionou mais no relato que li, certa vez, sobre os últimos dias da Segunda Guerra Mundial na Europa do que saber que, enquanto as tropas russas entravam em Berlim, em algumas zonas da cidade o leite continuava a ser entregue, os carteiros continuavam a fazer suas rondas, a vida “normal” seguia seu curso. Não sei se achei isso admirável – o poder de resistência ao caos do banal e do cotidiano – ou um exemplo assustador da rotina desconsiderando a História. Viver “normalmente” num mundo em conflito permanente entre riqueza e miséria, privilégio e exclusão, progresso e atraso é a experiencia comum de todo o mundo. Isto inclui os desenvolvidos e os sub, inclui todos sem exceção – a não ser, talvez, os escandinavos. Mas mantemos nossas rotinas mesmo sabendo dos bilhões de despossuídos da Terra, incluindo os que vemos pelas nossas janelas. Fazer o quê? Sentimos muito, nos indignamos, votamos em quem promete melhorar a situação pelo menos na nossa vizinhança, mas nossas vidas têm que seguir seu curso. Como em Berlim, o conflito está acontecendo longe do nosso cotidiano. Mas às vezes – como no Rio – o conflito invade o cotidiano. A rotina é abalroada pela História. Nosso dia-a-dia não é mais refúgio nem álibi e somos obrigados a enfrentar a realidade.
Além das características peculiares do confronto que o incendiou – o trafico, a polícia, as milícias, os políticos, uma velha História tipicamente brasileira –, o Rio serve como um microcosmo das divisões sociais, raciais e econômicas do mundo, apenas complicado pela
sua geografia nada comum. Discute-se quais seriam as piores favelas do mundo – dizem que as do Haiti e da África do Sul disputariam a medalha de latão – mas todas as favelas são iguais no que elas representam de descaso de um lado e de ameaça do outro. Antigamente, quando quem morava nos morros do Rio vivia pertinho do céu e arma de bandido era navalha, já se falava no que aconteceria quando os morros “descessem”.
O temor, explícito ou implícito, é de todo o mundo. Mas enquanto a invasão não vem, ou só vem de vez em quando, a rotina prevalece e a vida segue seu curso.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

paixão segundo o fim do ano


aqui no Brasil é verão
rascunhar caminhos com o clima abafado
banhar onde ainda se vê o chão
não muda minha situação
aperto os olhos e olha o que me acontece
vejo a ponta de um iceberg brilhando no infinito
e derreto de paixão se enrosco contigo
perfeito segredo
perigo
carnificina
na Rocinha
na cozinha
carnes na Prainha
torrando ao sol e sal
evaporando, morrendo, correndo
só esperando o Carnaval
o tempo que voa, pára
a chuva que lava, leva
o peito que bate, dói
a pele que clica, manda
então eu digo: paz e amor
suor e frescor!
dedo do foda-se pra vc!
eu sou muito mais malandra!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

quase leve

me acontece uma solidão gostosa e rara quando a chuva forte do verão disfarça o meu silêncio que no mais silêncio é só a minha música! tempo, vento dentro e gosto de mim aqui, assim... uma lembrança recente. fade out da nossa última cena de beijo, escurece, cai o pano, quebra, arde quente, quente.
quente
se sente.

tão selvagem a coragem...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

contribuição de um amigo poeta para esse blog:



Não se esconda atrás do espelho
Não se prenda na moldura
eu lhe imploro de joelhos
seu amor é minha cura
Não prenda seus cabelos
nem apague esse sorriso
esse samba é meu apelo
seu amor é o que preciso
Não feche as cortinas
nem cale a sua voz
A chuva que canta aqui na esquina
traz água nova pra sua foz

domingo, 24 de outubro de 2010

sempre que eu tento, não adianta!

trocou as sapatilhas de balé pelos coturnos
sem clair de lune
no noturnos
se foi
foi?
foram-se indo todos aqueles
e mais os que virão já verão amores
nomes
cores
sabores
dores

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Caracteriza-se a Demência quando, em um indivíduo que teve o desenvolvimento intelectual normal, ocorre a perda ou diminuição da capacidade cognitiva de forma parcial ou completa, permanente ou momentânea e esporádica. Dentre as causas potencialmente reversíveis estão disfunções metabólicas, endócrinas e hidroeletrolíticas, quadros infecciosos, déficits nutricionais e distúrbios psiquiátricos, como a depressão (pseudodemência depressiva) e amor.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PEÇA MULHERES DE CAIO ESTREIA ESSA SEMANA!

IBAM CULTURAL: LARGO DO IBAM N1, HUMAITÁ, EM FRENTE AO RESTAURANTE À MINEIRA
ESTACIONAMENTO GRATUITO
INGRESSOS
20,00 INTEIRA
10,00 ESTUDANTES, IDOSOS E CLASSE

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

não deu pra ler. aqui, agora, assim, não.
pingou uma gota.
secou.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sozinha

enquanto ela não vem, disse que chegaria em pouco tempo, pediu confiança que voltará, voltará, nenhuma sensação de sua aproximação, isso me angustia e o tempo, remédio pra tudo, dizem, voando e enquanto isso eu vou me virando, me contorcendo pra caber nas horas do dia e nas tarefas que me proponho sem causar escândalo, eu aqui sozinha com essa vontade louca de chorar e não conseguindo, apertando a garganta cheia de tosse, sem dormir, louca pra atravessar os dias sem ela só no sonho, rouca e velha e quase sem ilusões, e cínica, ainda espero, tomando xarope, fumando cigarro, caindo pelos cantos, cheia de vergonha da minha cara de abandonada. já viu gente abandonada? é feio, é triste... tão triste... o olhar fica meio parado numa expressão estranha. o olhar procura longe, não foca em nada mais perto, fica vago, perdido, cansado, sem brilho.... é triste e sem fim.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

VEM QUE TEM! FESTA DIA 27/08!!!!

AS MULHERES DE CAIO SÃO:
BRUNA SPÍNOLA
CAROL FAZU
JOANA GERVAIS
LINN JARDIM
LARISSA SARMENTO
PATRÍCIA ELYZARDO
RHAVINE CHRISPIM
E EU!!!!
VENHAM!!!!!!!!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PROCURA-SE MULHER-MOSTRA


AVISO:
A mulher- monstra que quase nunca sai para brincar, hoje foi vista solta pelas ruas de Botafogo. Por descuido no forte esquema de segurança que a mantém separada do mundo real, ela fugiu e sozinha ameaça a paz de toda a cidade. Geralmente assusta e faz confusão, ninguém controla a sua estranha pulsão. Portanto, atenção!

RETRATO DA CRIATURA:
Tem um pau enorme que pode comer o mundo e fazer sangrar até o mais crente de valentia, uma corcunda profunda, inofensiva e grotesca. Usa um rabo de cavalo bem alto, dá golpes com o cabelo, já cegou muita gente desavisada por aí. Passos ligeiros, pernas abertas alertas e quadril de fêmea no cio. Grita quando se irrita, levanta a mão/pata com os dedos abertos para acariciar ou mais uma vez golpear o inimigo, sem aviso!

TODA A COMUNIDADE DEVE FICAR ALERTA!

PONTO FRACO: gentileza

CUIDADO: parece humana. além da corcunda profunda, pode ser identificada pela alta estatura, cabelos muito negros e longos. olhos igualmente negros, grandes, selvagens e pele macia, de um brilho incomum.

RECOMPENSA: uma vida inteira minha de gratidão e... podemos negociar outras formas de pagamento.

ilustrações Robert Crumb

humano demasiado humano slava's snowshown

com nenhuma palavra, Slava's SS encena o que o homem tem de mais inocente e de mais complexo . como? muito estudo, muito amor, muito esforço, e enfim... 30 anos depois, a descoberta da perfeita matemática cênica! uma equação misteriosa com fatores como precisão e simplicidade de alto quilate... aula!

domingo, 1 de agosto de 2010

DOIDO!


quero falar de sangue, suor, lágrimas e quem sabe até de vômito, não me levem a mal, nem a bem, mas é que às vezes me sinto assim...tão.... e não tem nada a ver com você nem com a tv! tem a ver sim com o que em mim não está quieto. não deixe quieto, não deixo, fique esperto! corda bamba, vida loka! me socorra! eu não posso nem fugir, muito menos mentir. nunca mais! encare com caráter encare com garra, e largue, larga toda essa máscara! em cena na vida real com muita cara de pau diga ao seu destino que fuja de você porque nem ele sabe de onde vem e pra onde vai, vontade de sinceridade. vontade de crueldade. gargalhada na porta do teatro. elias andreato hoje me catucou na peça DOIDO. último dia em cartaz aqui no Rio hoje!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

encomenda

essa postagem é uma obrigação. crônica, relato, não sei de que forma, mas preciso cumprir uma promessa que fiz pra mim mesma. escrever a qualquer custo sobre o meu dia! venha o que vier, respeito, respeitem. sei que vai ter gente aí rebaixando esse texto a um simples registro tipo aqueles escritos em diários de adolescentes. o negócio é que de repente hoje tudo foi muito diferente. e eu podia ter ficado irritada com isso, pois planejar um dia é raro e preciso. nada aconteceu de mais nem de menos. a culpa é metade minha, metade do acaso. eu, por adorar fantasiar e dramatizar detalhes bobos que qualquer um nem notaria. o acaso, como lua cheia que rouba a cena em noites especiais, hoje resolveu solar em boca de cena. foi mesmo um dia, no final das contas, cheio! até piolho catei na meia arrastão que prendia a cada movimento que fazia, entende? piolho! piolho pipoca e meia arrastão prende em tudo! e faz tac tac! e com o mesmo jeito de tirar piolho eu desprendia a meia pra continuar andando pelas ruas da Tijuca, de Botafogo, do Catete, de Copa e de Laranjeiras também. por todos esse lugares orelha em pé, como de cão de guarda. tão curioso estava o som da cidade e as músicas que me cruzaram. até trilha sonora! eu sou uma personagem, sempre que quero e quando menos espero. na fila morta da Vivo não pude dançar, pois me confundi com tantos ritmos. samba ou jazz? bossa nova? rock, tango, bolero, forró, fado engasgado e ódio nos olhos saltados. suspiro me viro e repito três vezes: vou dar uma volta, vou dar uma volta, vou dar uma volta. vou ver a cidade, vou sozinha sem amizade. não decorei nunca o número nem do mais importante dos amigos, sozinha. impossível! eu dou três passos e logo escuto meu nome bem alto numa exclamação tão bem vinda! eu nem me assustei, sorri! vem, vamos ali tomar um café? sim. vamos ler um pouco? sim. e fazer uma hora pra ir ao teatro? sim. vamos trocar figurinhas, letras e segredos? sim! sem pressa melhor ainda. com adoçante e cigarro, dorittos e sprite light. bom, tudo numa desordem só. sem linha cronológica, por favor. então agora eu volto ao momento em que entro novamente no meu carro e ligo o rádio que ainda está na mesma estação de antes, tocando a mesma música de antes, ainda no refrão, só que horas depois! horas e por mais de 20 minutos apenas o refrão continuou tocando! estranho, realmente um detalhe estranho. muitas hipóteses, mas a primeira claro foi a mais ego trip de todas. quis achar que era um recado pra mim! pra mim, com certeza! tocava girl you gotta love your man, the doors. eu balançava a cabeça curtindo aquilo, concordando com aquilo até que me enchi o saco, rindo de mim que não trocava de estação mesmo assim. 91.5, alguém conhece? não era pra mim porra nenhuma. o dj e locutor morreu em plena transmissão e o corpo caiu pra frente, onde fica a vitrola. ninguém percebeu? só eu? ai coitado! morto e esquecido! morreu de que? se matou? foi assassinado? a sua mulher, sua amante, sua ex, quem era a louca que o matara com unhadas profundamente cravadas na jugular? a de unha maior e mais afiada, uma arma pintada de vermelho doce inferno. será que foi o sangue que fez o disco tocar sempre a mesma parte da música ou será que a louca depois do crime cometido ainda teve a frieza de esolher a trilha sonora e ainda por cima mixada?! é almodóvar? é filme? é nada! é imaginação. imagem, ação, imaginerie, simulacro, invenção, fantasia, desejo de metafísica, sei lá..... buenas noches!

domingo, 18 de julho de 2010

hoje eu vou postar até o meu dedo cansar, vou gastar do único jeito que me resta! vou gritar com os teclados prateados do meu mac maltratato, vou cuspir nos olhos de alguém uma hora dessas esse tanto de palavra molhada do esforço em querer dizer o que desorganizado tem me incomodado tanto. tecla, tal, talco, tara, tico, teco, tiara, teco, tive, toma, tá nada, sou nada, tapada, tá fudida! tsc, tilte, titanic, tiramissu silvestre derretido na memória. agora já está melada a confusão!

muito estranho

às vezes penso que engoli um demônio e não fiz a digestão...
minha tia disse que é normal, mulheres intensas são assim. minha tia nunca sentiu nas entranhas isso que eu sinto. ela mesma me confessou que sabia que a vida podia ser bem pior, mas preferia sentir as coisas com mais leveza. perguntei como fazia para preferir e conseguir o que prefere. ela ficou calada e com um semblante muito doce simplesmente inclinou a cabeça para cima e ainda calada suspirou com os olhos brilhando. sei que ela não viu nada e eu fiquei sem resposta. pouco antes da sua morte, eu voltei nesse assunto porque sempre pensei que quando a pessoa sabe que vai morrer parece que vê a vida com mais clareza. ela mais uma vez calada. que coisa! muda não era e ainda tinha uma certa força para abrir a boca e deixar escapar algumas palavras. balbuciaria, imaginei com ansiedade me queimando o demônio, alguma dica, sei lá... nada, nada. não disse nada, nem olhou para cima. olhou para mim com um olhar muito estranho. metade pena, metade inveja.

entre os fios quebrados finos aos meus olhos cortados estranhos sem pausa com pressa para nada capto ca ca ca beça capta piolho no olho de quem vê balançar a cabeleira de finos fios ca castanhos dançantes movimento estética solidão brilho e algo de sexual escondido ainda mais dentro do emaranhado desesperado pára

próxima
amanhã
eu não sei
3
tarde

segunda-feira, 28 de junho de 2010

é natural qualquer coisa

dói ter vontade de fazer xixi e não poder

sábado, 26 de junho de 2010

o pesadelo da boneca russa no inverno



miudinho como uma ervilha. dentro bem dentro e quase sem espaço ainda bate nas paredes de dentro do dentro da membrana que separa da outra parte. e do lado de fora mais um ou seria uma cápsula que guarda outras cápsulas de amor escondido? e dentro do dentro e do lado de fora, duplamente cheio de faces surgem as ervilhas cada vez maiores até chegar ao tamanho de um coração humano de gente adulta. no frio da solidão, tremendo de medo. só se despe no desespero e só morre no fim. o que é o que é? é o pesadelo da boneca russa no inverno!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

para não pecar contra a própria vida

Dizem que a primeira palavra que falei foi Deus? Dizem...
É claro que eu tentei falar pa-pai, mas antes mesmo foi Deus, dizem...eu acredito.
Fui criada por duas tias carolas que chamavam por Deus? o tempo todo. Para tudo era Deus? Eu escrevo e falo Deus? sempre com interrogação no final, perceberam? Descobri. É assim que se deve falar com Ele! Comecei interrogando para me certificar de que Ele estava me escutando e continuo pq passei a duvidar da sua existência. Titias se fossem vivas não iam entender esse meu jeito de pensar. Não importa, pois mesmo assim eu me sinto muito bem e ainda faço as minhas orações diariamente. Antes de dormir ou quando fico nervosa e isso pode acontecer a qualquer hora do dia e da noite. Acontece mais à noite, quando estou sozinha em casa e o escuro me engole. Junto as mãos na maior das fés e chamo Deus? E acho que ele não me escuta e chamo mais uma vez Deus? E Grito Deus? Bem alto e com o grito vem o choro forte, depois o silêncio, a calma e então consigo dormir. Sonho com Ele me ninando e acordo acreditando de novo. Durante o dia eu preciso fazer isso algumas vezes. É muito importante não desistir de Deus? Só assim a gente consegue ir até o final.

terça-feira, 22 de junho de 2010

praia de areia fina e branca, muito branca. casas cortadas ao meio, feridas e abandonadas. todas enormes e de estrutura negra. som de esqueleto cortando o vento. pequenos bichos mortos, peludos como tapeçaria de luxo e um mar de gente muda e desconhecida enquanto ainda sorri. caminha, sente o vento nos cabelos. a saia do vestido dança, faz um desenho bonito borrado de flores amarelas e vermelhas. cachorros de pêlos pretos deitados, ou mortos. carrinhos de bebês, babás invisíveis, bancos sujos, choros abafados, sacadas verdes, praça de concreto. olhares vazios, sorrisos montados, falsa tranquilidade. bananeiras, palmeiras e coqueiros. enormes janelas pro nada, panos brancos, cheiro de queimado. já sem fogo, td ali já havia acabado, mas ainda assim uma vida estranha, além do verde sobrevivente do alto do coqueiro, pulsava silenciosa como respiração contida. côco queimado, côco seco. boca seca, nariz seco, td cansa e o azul marinho do mar mais distante. pensou: foi feito pra não alcançar, só pra sonhar.

domingo, 6 de junho de 2010

mil por hora

se o coração aguenta então vá em frente!
quando a perna é forte não há medo que a faça TREMER

corraaaaaaaaaaa!!!!!

é bonito quando no meio do caos o tempo desacelera e as cores vibram
esse movimento é poesia que invade apesar dos poros entupidos pela vida que te exige ser prático

chega uma hora que você só tem que dizer sim ou não, mas as escolhas são infinitas

quem sabe?

não falo só do amor, falo do tempo e do espaço
e de variantes e variáveis

mente precisando meditar

corpo rígido do frio

ai domingo, vai passar

e é mesmo necessário ser super humano

ou se fuder

escolas de malandragem, frequentei sim

buda, jesus, freud, ossanha, chico buarque, clarice lispector e incenso

caio fernando abreu

sou uma mulher
sou uma mulher?

quantas ainda cabem aqui dentro?

e assim seguem os dias
e eu me perguntando

quizás, quizás, quizás
laralaralaralaaaaaa
la la la la la la la

vou me casar
já mandei fazer o vestido!

terça-feira, 1 de junho de 2010

boneca russa de tpm


colorida, bem vestida e com cara de saudável eu caibo dentro de mim e dentro de mim cabem mais várias de mim. uma menor que a outra, encolhidas, como cabem! primeiro eu, depois uma outra eu e depois outra e mais outras infinitas. bem de dentro de mim brota um monte de mim, um monte de eu, de coisas. cada uma com uma cara muito minha, máscara atrás de máscara. uma, depois a outra e depois a outra. de dentro pra fora e de fora pra dentro. são muitas de mim enfileiradas esperando a hora de atuar ou de correr pra trás de alguma pra se esconder do mundo. com a boca roxa de frio uma das bonecas quer saber se tem chocolate quente e cremoso agora. tem?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

é o pente! até o presidente!



não tenho olhos pra encontrar o buraco da agulha, a linha solta voa, some e se confunde com meus cabelos brancos que já nascem sem eu perceber. também não tenho olhos para ver as marcas do tempo na minha cara pálida, cara de pau, cara à tapa, carão, cara dura, caraca! no som do pancadão, vou rebolando até o chão, saindo de mansinho eu caio na contradição, é meu irmão, é a lei do proibidão, ão, ão, ão, NÃO, NÃO, NÃO! fui interrompida pela gritaria do funk aqui na esquina. me avisa só onde eu posso botar com raiva!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

tem jeito não

conte uma mentira
é rapidinho
e leve uma bolacha
mas de chocolate
late, cachorro bobo!
você também late
na unha meta é mate
côco ralado, bote mais!
capriche no rebolado
é bom mermo
misture tudo assim
ande rápido, menina
aí que agonia!
tire isso de mim!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

morte ou pela passagem de uma grande dor


tudo está sempre morrendo.
não sei até quanto eu posso guardar do que passa forte por mim, mas alguns momentos já nascem eternos
choro muito pela beleza do amor
pela tristeza
pela certeza da dor,
não queria nem que a morte pudesse parar o amor
pra onde vai o amor quando ele acaba? acaba o amor? morre o amor?
explode no ar em cores lindas e se transforma em lembrança de quem? ou vai morrendo aos poucos deixando só um rastro, só uma música de fundo dedilhada em que espaço? em que tempo?
luto
é tão grande a sensação de solidão quando um amor acaba
e quando ele nasce
e quando ele acontece
não se pode amar como antes
eu odeio o amor
imagens em câmera lenta e retratos cortados dançando gymnopedie
tudo isso na minha cabeça e meu corpo todo doendo de desamparo
sou grande demais pra caber no colo de alguém, adulta demais pra assumir que não sei nada da vida, burguesa demais por achar tão importante falar de amor?
dói
e se eu morresse?
e se vc morresse? já pensou?
e se já morremos?

lembremos dos nós dos nossos corpos nús
das danças e dos gritos no ouvido
das gargalhadas e conversas mais complicadas
das manhãs e noites seguidas de nossas companhias, tempo curto da vida em que pensamos que solidão não existiria

segunda-feira, 10 de maio de 2010

lago negro

qualquer coisa quando cai, mesmo aparentemente não rachando, se machuca
qualquer choro que não sai quando vem é bem vindo
gosto de rir de mim mesma depois que uma gota transborda meu pote de água negra
ao contrário do que penso, faço e depois calculo
por mais que eu tente, sempre é um mergulho
cheiro flores no escuro como Ofélia faria apaixonada
depois a correnteza lava e a miséria da alma acaba
perto do que me dói, apenas eu e minhas infâncias roubadas
uma lista interminável de imagens
me perseguem quando estou assim tão, tão, sei lá
me deixa
me deixa
porque se não me deixar eu não deixo e não tem mais jeito
viagem no cartão de crédito
bilhete de despedida
roupas velhas na mala
promessas de vida
me deixa
tpm é uma merda
ela faz que não vem
mês a mês joga meu humor no lixo
e logo volto podre para a superfície
preciso parar de gastar moedas nas fontes de pedidos!

domingo, 9 de maio de 2010

dizem que sou louca por eu ser assim...


me perguntava muitas vezes ao dia
me perguntavam em silêncio muitas vezes ao dia
sou uma idiota?
procurei o significado da palavra no dicionário antes de finalmente tentar me responder.
eu realmente fiquei encucada e queria uma resposta bem pensada, para que meu próprio julgamento fosse ao máximo justo. uma vez idiota, sempre idiota e isso é uma marca profunda na personalidade de uma pessoa, penso. bom, encontrei o seguinte:
IDIOTA: que ou quem é pouco inteligente: tolo, estúpido, imbecil.
e tarde chegou o momento de confrontar meu ego e supergo numa discussão difícil, mas eles acabaram concordando. Pois sim, sou uma idiota e vá com Deus. Eu vou!
às vezes é melhor não aprender, olhar pra vida como se tudo fosse inédito,
ser virgem de novo, ingênua e não usar disfarces, atenta ao vento, tolinha, tadinha... felizinha!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

como vc se sente?

ela ficou louca, é o que todos dizem.
superficialmente, claro, é o que podem dizer.
tão linda e louca, Betty Blue da zona sul.
corta os cabelos toda semana, pinta de 15 em 15, rói as unhas sistematicamente enquanto tenta colar as postiças na carne viva.
rasga a meia-calça pra fazer um estilo diferente, ri das próprias invenções.
escreve seu nome com os dedos na poeira dos carros
atende o telefone com bom humor e quando desliga quer matar quem ligou!
faz compras somente do que não precisa
beija somente os que não a cativam
finge orgasmos
multiplica suas gargalhadas em ecos de estranha felicidade
bebe diariamente, de refrigerante a detergente
varre toda a cidade!
dorme quando consegue, sempre tem algo a fazer
e nada importante
liga pra mãe chorando, depois diz que é saudade dos tempos de antes
consegue um trabalho aqui e ali, no caminho pinta correndo a boca de vermelho alaranjado, borrado
gasta tudo que ganha com cigarros, bebida e idas ao cinema
nunca teve carteira de estudante
se lambuza de algum doce delirante, uma vez na semana
vomita várias vezes por semana
vê caras e lê veja nas bancas das esquinas, assim sabe de tudo o que acontece no mundo todo e pode conversar com estranhos sobre as notícias mais quentes, superficialmente, claro.
comenta também sobre o tempo e o quanto as fulanas emagreceram ou engordaram
com o passar do tempo
o tempo, sempre o tempo!
sonha com um grande amor
acorda desesperada
liga o rádio escuta Amy e dança Gaga
quer ser a Beyonce, mas a bunda faz tempo não anda lá essas coisas, ela sabe
e vai levando
o tempo passando e ela com a mesma mania de garota colorida
cada unha de uma cor, tem vez...
as unhas, sempre as unhas!
sapatos vermelhos
sempre vermelhos!
lenços e laços estampados
e o tempo
tá chuvoso
mas guarda-chuva, ela não tem
vive molhada, quando não chove se taca no mar pra tentar se afogar
mas não consegue, ela vai levando, assim como pode
sozinha, tadinha.... maluquinha!

domingo, 25 de abril de 2010

dor e cansaço para que algo aconteça
e de novo e de novo
quem vem primeiro a galinha ou o ovo?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

encaramujando

nóssóasóssónóssemosnós
..............................................navegando
porque nascemos
mas não queremos..............................
duvideodósemdónemnó
........................................deitar na grama verdinha
encaramujando juntinho

segunda-feira, 5 de abril de 2010

renda-se

certas coisas são inevitáveis como a dança das janelas abrindo e fechando ao som de vento forte

domingo, 4 de abril de 2010

utdo é ciçfão, mneos a dro.

O título dessa postagem é uma frase de Jô Bilac: "Tudo é ficção, menos a dor." A cena é uma narração em primeira pessoa que começa assim: ontem passei na esquina de casa e vi uma mulher pendurada no orelhão. ela tinha os olhos borrados de maquiagem preta, a cara suada, o cabelo louco, o salto torto (metade na calçada metade no asfalto), tornozelo torto, sujo, decote torto, sorriso torto, dizendo pau sa da men te entre espumas brancas:
- sabe, já não espero mais as flores, o cartão postal nem sequer as lembraças por elas mesmas. eu sei, bebi demais. 12 horas de porrrrre, é bom! agora basta comer um macarrãozzzinhosozinha em casa, novela na tv olhando nos olhos do thiago laceerrda. sabe, eu não espero mais uma comidinha feita com essspeciarias e malandragens que vc me prometeu. faz tempo perdi o paladar pra coisas que eu não provei. tá td calmo... é como eu te falei uma vez na casa da sua mãe: quem nasce bem como eu não aceita qualquer coisa! lembra ou não lembra? nãaao lemmbra. agora vai dizer que não leemmbra! então, escuta! quem nasce bem como eu não aceita qualquer porcaria! entendeu? mas eu tô trabvallhanndo o desapego, o zen, o amor próprio e ao próximo tudo assim juntinho, é difícil, mas eu ttôo no caminho, eu vou me adaptando, sabe como? thô calllma! eu tô ficando velha e idiota, é isso, vc tem rrrazzzão! tem rrrazão! eu não disse que vc disse isso eu é que disse que eu acho que vc acha isso de mim. eu não tô exaggeranndo não, tá!? vc acha isso sim eu sei que acha, mas tá td bem, td certo entre nós, enfim concccorrrdamos! eu sou velha e idgiota!
bateu o telefone na cara do sujeito, depois das últimas e conclusivas palavras arrastadas e sumiu na multidão. para observar essa cena até o final eu tive que disfarçar a minha curiosidade. primeiro fingi estar conversando ao celular, depois ajeitando o cadarso do tênis na beira da calçada, também toda torta quase com a outra metade do pé no asfalto, bem ao lado da sandália de plástico da mulher descontrolada. ela devia ter uns 30 anos. toda torta da vida. sem saber pra onde ir de tanta birita, coitada! aquela mulher fazia gestos monumentais, ela era um espetáculo e isso td é invenção!

domingo, 28 de março de 2010




errei o caminho de casa outra vez enquanto pensava que tudo se parece com tudo. tudo se parece com tudo e com nada ao mesmo tempo. queria dizer isso a um desconhecido, que não me julgaria demais. na minha solidão de agora só cabe mesmo alguém que nada sabe de mim. alguém que não me fez nada de bom nem de ruim. acho que não! acho que tudo se parece com o que é, quando conseguimos perceber algum sentido, mas hoje não. algumas pessoas vivem assim a vida inteira. e assim passam os anos tentando tantas coisas, errando tantos caminhos. eu vi um filme hoje que parecia a minha vida, que parecia.

O AMOR:

o céu vai cair em gotas pesadas na minha testa preocupada. o vento vai sacudir as minhas idéias embaraçadas, as minhas tranças de princesa apodrecida, mas não vai ser capaz de levar para longe o mau cheiro das feridas. nem a chuva vai lavar coisa alguma, por mais que eu me faça de esquecida.

quarta-feira, 24 de março de 2010


PAREM DE LER O MEU BLOG, PROCUREM MAIAKOVSKI!

terça-feira, 9 de março de 2010

evasivas meias palavras

uhum... aham... é... não, não. não sei. uhum, é, tá, tá. tá bom... então tá bom, tá bom, tá. tchau!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

AGRESTE MALVAROSA

Texto espetacular de Newton Moreno
com direção de Ana Teixeira e Stephane Brodt, do AMOK
música linda de Beto Lemos
em cena duas jovens atrizes Millene Ramalho e Rita Elmôr, inteiras fazem as palavras de Newton ficarem ainda mais bonitas e reais
no Teatro do Jockey, até 14 de março!!!!
sente logo na primeira fileira e olhe bem fundo nos olhos das atrizes, como uma criança que acredita nas histórias bem contadas, fui ao agreste e vivi com elas a beleza do amor, a agonia da ignorância, a dor da morte, a graça das descobertas. é uma peça delicada como a malva rosa, planta usada por curandeiros de flor exuberante e cultivada sob sol pleno

sábado, 20 de fevereiro de 2010

ressaca

finalmente sinto a solidão que ninguém nunca poderá tirar de mim! absoluta, bruta e definitiva. agradeço a sinceridade desse momento, que é a única testemunha e a única que não vai tentar me fazer acreditar em outra possibilidade para mim nessa vida. já estava na hora, quando o carnaval acaba. abri a porta, dei de cara com ela e não teve bloco pra disfarçar, é mentira! hoje brincou o bobo. entrei em casa com o rabo entre as pernas assumindo que acabou a fantasia.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

MULHERES DE CAIO: META-CARTA

Querido,
quanto tempo não ouço a sua voz de veludo pesado! Veludo do bom, grosso e macio que me esquentava nas tardes cinzas de inverno. Aquelas tardes em que não nos encontramos naquela praça abandonda no meio de uma cidade invisível, espaço entre o nada e o lugar nenhum, onde coube por um tempo a cabaninha secreta do nosso amor mágico. Truque: saiu agora da minha cabeça essa palavra e é mesmo como um truque que alguma coisa que era fundamental desapareceu deixando a marca da lágrima eternizada na cara do palhaço. Então, meu muito querido, essa carta é de alforria, desplugo agora nossa sintonia! Querido querido, me perdoe por eu ser quem sou, me perdôo por ter te amado demais, te perdôo por tudo o que for preciso perdoar. Fechamos a conta assim com tudo combinado e quitado! Eu realmente espero que você entenda os meus motivos escondidos e que não pense que estou maluca. Que essa carta chegue ao seu endereço, mas isso não depende só de mim...
Um beijo com desgosto carinhoso de quem sempre vai te esperar voltar das cinzas tardes esquecidas na memória, das manhãs dos sonhos mais coloridos, bem do fundo da minha mais ingênua ilusão, das paisagens mais lindas das florestas mais densas, de algum lugar... e aí eu vou querer te dizer um texto que eu li uma vez e que me fez lembrar muito de nós dois. Com cuidado, palavra por palavra, bem articulada, vou te dizer cada uma delas com os lábios tensos que seguram o choro:


"SABE QUE O MEU GOSTAR POR VOCÊ CHEGOU A SER AMOR, POIS SE EU ME COMOVIA VENDO VOCÊ POIS SE EU ACORDAVA NO MEIO DA NOITE SÓ PRA VER VOCÊ DORMINDO MEUS DEUS COMO VOCÊ ME DOÍA VEZENQUANDO EU VOU FICAR ESPERANDO VOCÊ NUMA TARDE CINZA DE INVERNO BEM NO MEIO DUMA PRAÇA ENTÃO OS MEUS BRAÇOS NÃO VÃO SER SUFICIENTES PARA ABRAÇAR VOCÊ E A MINHA VOZ VAI QUERER DIZER TANTA MAS TANTA COISA QUE EU VOU FICAR CALADA UM TEMPO ENORME SÓ OLHANDO VOCÊ SEM DIZER NADA SÓ OLHANDO OLHANDO E PENSANDO MEU DEUS AH MEU DEUS COMO VOCÊ ME DÓI VEZENQUANDO" Caio Fernando Abreu, no conto Harriett